Cantor paranaense e sua banda divulgam o gênero em shows locais e no exterior
Juliano Ravanello se apresentando acompanhado de seu parceiro de banda, Fernando Bittencourt (Crédito: Icaro Couto)
Juliano Ravanello administrador de empresas e também músico, nasceu em União da Vitória, no interior do Paraná, e, atualmente, mora em Curitiba. Ele foi apresentado ao canto gregoriano por intermédio de uma amiga, sete anos atrás, ainda na adolescência, quando ela o presenteou com um CD.
Segundo o músico "o canto gregoriano é a mais antiga manifestação musical do Ocidente e suas raízes estão fincadas nos cantos das antigas sinagogas judaicas". O nome vem de uma homenagem ao papa Gregório Magno (540-604). "Foi por meio dos cantos gregorianos que a música erudita cresceu, sobretudo com o surgimento da partitura e da união de voz e instrumentos musicais", explica Juliano.
De formação completamente autodidata, ele revela que desde os 17 já gostava de cantar e foi isso que o levou a emergir cada vez mais nessa área. A banda de Ravanello conta, hoje, com 5 integrantes, cuja presença varia de uma apresentação para outra. O currículo do grupo possui apresentações em vários estados brasileiros como, por exemplo, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Eles também já tiveram oportunidade de tocar no exterior, em Israel, na Palestina.
Os instrumentos utilizados cotidianamente, nos espetáculos, são o piano digital e o teclado, de acordo com o músico. Também são utilizados o cello, a flauta e as placas de metal (sinos). Sobre a sensação de cantar para uma grande platéia, Juliano diz que é maravilhosa. “Espero passar para as pessoas um sentimento de bem-estar, que cada um acaba sentindo de uma maneira diferente. O canto gregoriano gera nos seres centramento, elevação, harmonia, transcendência espiritual e beleza”, conta.
Para ele, seu trabalho tem função de passar uma mensagem importante. “Penso que o artista tem a missão de aproximar as pessoas da beleza infinita de Deus. A música prepara a humanidade para a ascensão da ordem cósmica, e abre caminho para o belo, harmônico e justo”, argumenta. Ouça aqui o artista contando mais sobre a relevância do canto gregoriano no cenário cultural contemporâneo.
Apesar de já gozar de alguma popularidade, Juliano conta que, infelizmente, ainda não consegue sobreviver apenas dos lucros das apresentações, assim como acontece com muitos outros músicos locais, independente do gênero. Para os interessados em canto gregoriano ou em estudar e aprender arte, o músico alerta: “Procurem sempre compreender a beleza estética da música de uma forma universal e não de uma maneira fechada e só religiosa. Busquem este canto para trabalhar a expansão de sua consciência e seu auto desenvolvimento".
Os desafios enfrentados pela música erudita no Brasil
Fernando Bittencourt Vargas, 48 anos, formado em Produção Sonora, pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), e estudante de piano clássico, desde 1981, é um dos atuais companheiros de banda de Juliano. Ambos se conheceram quando Bittencourt foi convidado para tocar em uma das apresentações de Ravanello, em 2016. Desde então, ele vem atuando como pianista ao lado do cantor.
Assim como seu parceiro de banda, Fernando reconhece que a alta cultura enfrenta dificuldades de inserção no mercado audiovisual, dominado principalmente pelos gêneros de massa: “Um conhecimento maior do público torna-se necessário para que a música erudita seja mais divulgada e conhecida pelas pessoas. Só assim a beleza do canto gregoriano e de tantas outras vertentes clássicas conquistarão um espaço maior", defende.
O músico salienta ainda que, o tempo investido para aprender a tocar um instrumento, entre os estudos teórico e prático, é o que desenvolve a técnica e o repertório do artista, sendo que a tecnologia musical pode auxiliar no entendimento amplo da música e suas possibilidades sonoras.
Fernando Bittencourt tocando seu piano em uma apresentação (Crédito: Icaro Couto)
Primórdios do repertório musical humano
A professora Mariana Arruda, musicoterapeuta, docente da Universidade Estadual do Paraná e também especialista em neuropsicologia, diz que há muito tempo já é sabido sobre a relação do ser humano com sons e a música: "Desde a gestação, especialmente, na primeira ecografia, a mãe já pode ouvir o som ou as reverberações das batidas do coração do feto", conta.
A professora explica que por volta das 16 semanas o bebê recém formado já ouve os sons ao seu redor, como a voz da mãe e de outras pessoas. Logo após o nascimento, há indícios de que a criança reconheça as músicas que ouviu durante a gestação: "Então, com o passar dos anos, nós ampliamos nosso repertório de sons, ruídos e músicas, conforme nossas referências anteriores e aquilo que nos foi significativo, construindo assim nosso histórico musical futuro", salienta.