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Por Maria Laura Genkiwicz

O que leva os brasileiros a não ler

Pesquisa traz dados sobre a pouca leitura dos brasileiros, mas queda de leitura de livros inteiros é fenômeno mundial

Laura Engroff acha que os livros estimulam sua criatividade. (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)

Como está a leitura dos brasileiros no ano de 2016? Segundo a pesquisa Retratos da Leitura, encomendada pelo Instituto Pró-Livro, a "Culpa é das Estrelas" é o livro mais lido, atrás somente da "Bíblia". O professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e jornalista da Gazeta do Povo José Carlos Fernandes pontua que a queda de leitura formal (um livro inteiro) é um fenômeno mundial, e que a internet nos trouxe demasiada informação.

O professor lembra que a vida urbana influencia no uso do nosso tempo, além do lazer e entretenimento, que ganham nossa atenção cada vez mais. Sobre a leitura no meio digital, enfatiza ser um meio mais barato, no qual as baterias estão cada vez mais possantes, ou seja, favorecendo que as pessoas fiquem por horas conectadas. No infográfico são apresentados alguns dados importantes revelados nesta pesquisa:

A estudante Lais Mizuta França, 21 anos, afirma não ler por não ter paciência. “Até começo a ler alguns, mas eu não termino, pois a leitura começa a ficar cansativa”, conta Lais. Assim, ela diz deixar o livro de lado e não tem vontade de voltar algumas páginas para reler.

Lais afirma ainda que antes dedicava seu tempo para a leitura de romances e ficção, mas hoje lê temas que são importantes para a faculdade, então “se força” a continuar a leitura. Mas, livros de literatura não lhe interessam mais. Ela contou um pouco sobre como é sua experiência com o digital e enfatiza a sua opinião sobre o assunto. Ouça o áudio.

Leitura diária

Maria Júlia de Castro, 23 anos, afirma que a quantidade da sua leitura varia, por ser proporcional ao seu tempo livre entre a faculdade e o estágio. “Leio um livro por mês, doze livros por ano, dependendo da minha rotina, e nas férias leio mais. Mas, já li cinco no mesmo mês”, relata.

Ela comenta, também, que se sentia obrigada a ler durante os anos de escola, pois acredita que tal instituição impõe a leitura de maneira a não cativar os alunos. Relembra que na infância lia diversos títulos e aprendeu a amar o mundo dos livros. Neste áudio, Maria Júlia explica sua relação com a leitura.

Além disso, a estudante diz já ter tido experiência com livros digitais, mas que prefere o impresso, por isso, compra cerca de seis a sete livros por ano. O restante lê no smartphone por meio do aplicativo wattpad. Maria Júlia conta que “o custo de livros e a comodidade influencia, mas o fato de poder passar as páginas de um livro é algo que não pode ser substituído”.

Segundo a leitora, indicar livros do interesse das próprias pessoas seria uma maneira mais adequada para que elas pudessem amar os livros, além da escolha por títulos que possibilitem uma leitura mais dinâmica, rápida e prática. Conforme sua experiência, o leitor pode aumentar o nível de exigência na escolha de tais títulos.

Especialistas analisam este cenário

José Carlos Fernandes diz que a pesquisa do Instituto Pró-Livro compara a leitura dos brasileiros com a de outros países e que o melhor caminho seria não esquecer em qual tradição o Brasil se insere. “Desejamos que o brasileiro seja um leitor à moda dos outros e, de forma errônea, julgamos um leitor pior dos que os demais. É um leitor com suas particularidades e ponto”, comenta.

O jornalista divide o processo de leitura em dois diferentes níveis: o da "leitura na taverna", onde seríamos descendentes de uma tradição portuguesa, em que um lê e comenta para os demais. E "a leitura escolarizada", que deveria ser uma etapa dos estudos, mas que é deixada de lado assim que a educação formal é concluída.

Para entender os motivos pelos quais os brasileiros não leem, segundo ele, é preciso fazer as perguntas certas. Por que os brasileiros não compram livros? Por que não consideram a leitura importante? Por que vivemos numa cultura do livro dado pelo governo? Como o brasileiro lê? Por que os brasileiros deixam de repetir a leitura, uma experiência que aprenderam a amar um dia?

Laura Engroff afirma que “os livros nos colocam em uma realidade paralela ao seu cotidiano, mas ao mesmo tempo contando uma história diferente”. (Crédito: Maria Laura Genkiwicz)

Já o professor especializado em literatura brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), Eugênio Vinci de Moraes, afirma que “o ponto mais importante [...] é o combate à desigualdade. Isso implica numa melhora das condições materiais da população, o que propicia um melhor aproveitamento intelectual, de toda e qualquer experiência ligada à aquisição e produção de conhecimento”.

Em relação ao formato digital dos livros, Moraes acha que o suporte não convenceu o usuário, mesmo que tenham aplicativos gratuitos para leitura. Nem todos os livros são lançamentos, pois estas obras não estão em domínio público, além de existir o problema de acesso à internet.

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