A busca por adrenalina é a principal motivação que leva às pistas aqueles que não se contentam em ficar apenas nas arquibancadas
Pilotos amadores também podem correr nas pistas de Autódromo. (Crédito: Acervo Pessoal/Sérgio Miranda).
O automobilismo em Curitiba ainda é um esporte pouco conhecido. Apesar do Autódromo Internacional de Curitiba (AIC) não estar mais à venda - polêmica que gerou certa repercussão na mídia -, grande parte da população não sabe o que se passa longe dos holofotes nos dias de corrida.
‘’Eu acredito que, por mais que no Brasil o esporte a motor seja pouco valorizado, muitas pessoas têm condições e amor envolvido pelo esporte’’, comenta o piloto Diego Busato.
O recordista do ano de 2015
Diego e seu Opala recordista na categoria Super Traseira, em corrida no Velopark, localizado em Nova Santa Rita, RS. (Crédito: Reprodução/Youtube, HOT Campinas)
Diego Busato, de 30 anos, entrou para o esporte em 2009, na categoria Desafio, por influência do pai e do irmão que o levava em corridas. ‘’ A partir dali a paixão pelos esportes e motores em geral despertou em mim; comecei a correr e o amor só aumentou", conta.
Em 2015, Busato foi recordista brasileiro da categoria Traseira Super e chegou a 310 km/h em apenas 7.4 segundos. Mesmo sem ter certeza sobre o destino do autódromo, ele passou a correr em outros lugares. ‘’Por enquanto estamos correndo apenas no Velopark, lugar ideal para arrancada brasileira, e torcendo pela liberação da pista do Grandão, em São Paulo. Isso iria valorizar a arrancada, mostrar que é um esporte de alto nível, assim como hoje é nos EUA’’, comenta o piloto.
Um país onde não se pode viver de um sonho
Para entrar nas pistas de competição, é necessário esforço e investimento alto. Uns conseguem se manter no esporte, já outros precisam desistir do sonho de continuar acelerando nas pistas. Lucas Miranda, de 34 anos, além de piloto, é farmacêutico e empresário, e diz que não corre profissionalmente, pois não é possível se sustentar no Brasil através de uma carreira nas arrancadas. "Muito pelo contrário, gastamos o que não podemos pelo amor ao esporte. Trabalho todos os dias para ter condições financeiras para poder correr com meu próprio dinheiro’’, diz.
Com seis anos de idade, Miranda já fazia carrinhos de rolimã e conta que sempre gostou de velocidade e competição, correndo em provas de arrancada, kart e bike. ‘’Este opala com o qual participo nas arrancadas foi meu primeiro carro", explica. "Comprei com 18 anos, fui para faculdade e fiz viagens com ele". O piloto, que não chegou a bater nenhum recorde, colocou à venda o veículo recentemente.
Opala Azul Street Tração Traseira de Lucas Miranda (Crédito: Arquivo Pessoal/Lucas Miranda).
O casal que possui as mesmas paixões: velocidade e adrenalina
O piloto Adriano Reis, preparador de carros para arrancadas, começou a correr em 2009. Sua esposa, Sandra Marçal, também preparadora de carros, começou a correr por influência do marido, dois anos depois, por conta de uma brincadeira. ‘’Nosso amigo estava com medo e falei que, se ele fosse correr, eu também iria. E lá estava eu, dentro da pista’’, conta a pilota.
Na imagem, o carro de Sandra,usado para correr na Categoria Desafio 13,5s (Crédito: Arquivo Pessoal/Sandra Marçal)
Sandra já sofreu preconceito nas competições apenas por ser mulher. Ainda que fosse razoavelmente respeitada no meio, ela conta que alguns homens achavam que não podiam perder para ela nas corridas pelo fato de ser uma mulher.
A notícia do fechamento do autódromo gerou tristeza naquele que ela considera "o melhor lugar do mundo", porém Sandra e seu marido Adriano pensam em correr em outras pistas na companhia um do outro, se o local fechar — os autódromos de Camboriú, Sorocaba e Tremembé estão entre os mais cotados. ''A paixão pelo esporte fala mais alto'', diz Reis.
Acima, o Chevette de Adriano, chamado carinhosamente pelo casal apenas de ‘’Chevy’’ (Crédito: Arquivo Pessoal/Adriano Reis).
Lugar de amador também é na pista
O Autódromo Internacional de Curitiba traz frequentemente a oportunidade de qualquer motorista e seu carro de rua andarem na pista. Em eventos assim, motoristas habilitados podem desfrutar de um dia inteiro correndo para se divertir, conhecer suas habilidades e os limites do seu carro.
Para isso, os organizadores do evento exigem que tanto piloto quanto copiloto utilizem capacetes ao entrar no carro, que o condutor tenha o carro revisado e também sua carteira de habilitação em dia. Matheus dos Santos, que correu em uma das edições do Track Day, diz que acha interessante a iniciativa: ‘’É legal a gente se colocar no lugar deles [dos pilotos], sentir o que eles sentem e saber o quanto somos bons, é muita adrenalina’’, diz o rapaz.
Pode haver disputas entre os pilotos, mas não há um ganhador ao final das etapas. Carlos de Souza corre há mais de um ano e afirma que não fica de fora dos eventos: ‘’Eu não falto em nenhum, gosto de correr e me divertir na pista com meus amigos. E o que é mais legal é que não existe um ganhador dessas corridas amadoras, é uma disputa saudável’’.
Mesmo sendo um espaço para recreação, é preciso tomar alguns cuidados, pois o risco de acidentes é alto. ‘’A pista na reta está péssima, perigosa e na última prova houve acidentes’’, destaca Busato. Mesmo com alguns riscos, o Track Day pode trazer diversão aos que gostam de velocidade e a possibilidade de serem pilotos por um dia.
Outra alternativa mais "light"
Para correr no Kart, não é preciso ter carteira de habilitação e nem saber dirigir (Crédito: Arquivo Pessoal/Alexandre Camargo).
Para quem não se sente realizado apenas em assistir as corridas ou acha arriscado correr nas pistas do Autódromo, existe sempre a opção de reunir um grupo de amigos e correr de uma forma amadora no Kartódromo, localizado também em Pinhais. Para correr de kart, não é necessário possuir carteira de motorista ou mesmo saber dirigir. O único requisito é ter no mínimo 14 anos.
No local, que permite grupos de até 15 pilotos, são fornecidos equipamentos de segurança para os participantes, como capacetes e luvas. Os karts são revisados frequentemente por mecânicos e existem várias regras de segurança, a fim de impedir que pequenos deslizes se transformem em acidentes. Durante a corrida, os fiscais ficam espalhados, supervisionando e auxiliando os pilotos.
O Kartódromo, que existe há cerca de 50 anos, é conhecido pelo diferencial de sua pista profissional de 720 metros. É um local que está sempre aberto para campeonatos amadores e brincadeiras entre amigos e familiares, sediando também o Sul Brasileiro de Kart, entre outras competições importantes.