Os jogos eletrônicos podem auxiliar no desenvolvimento de crianças, mas também pode interferir caso utilizado compulsivamente
Até que ponto o jogo é benéfico ou maléfico para as pessoas? (Crédito: Alysson Moura)
O vídeo game já está inserido na sociedade há mais de 40 anos, tendo como função entreter e passar o tempo. Popular entre crianças e jovens, os jogos eletrônicos crescem cada vez mais no mercado, além dos consoles (aparelho de jogo eletrônico como Playstation, Xbox e Nintendo), os celulares e tablets também entraram no gosto de jogadores. Isso fez com que o tempo dedicado a jogos aumentasse no Brasil, o que preocupa os pais e especialistas da área.
Segundo uma pesquisa do Advancing Technology for Humanity (IEEE), os jovens estão passando de cinco a oito horas jogando sem parar. Apesar de ser um número expressivo, deve-se comemorar, pois antes as médias eram de dez a 15 horas a fio. Não é de hoje que este tema é pauta de discussão, mas ainda não há conclusões concretas sobre o assunto.
Segundo o psicólogo Rodrigo Fricate, especialista em psicologia comportamental, há um conflito de interesses em relação ao assunto: jogadores se defendem argumentando que o jogo não possui influência direta nas ações das pessoas, enquanto a mídia busca estudar para provar o contrário. “A relação entre jogos e desenvolvimento ainda carece de pesquisa, muita coisa ainda é especulação, e sempre surgem pesquisas malfeitas e controversas”, explica o psicólogo.
Em relação à influência do jogo, Fricate diz que pode ser negativa, isto se a atividade for praticada em excesso e não respeitando a faixa etária. Se controlado e supervisionado pelos pais, o jogo passa apenas como um entretenimento e evita problemas como: dificuldade de socialização, dependência do jogo, queda do desempenho escolar, entre outras consequências negativas. “No entanto, uma criança ou adolescente que passe muitas horas dedicado a uma única e exclusiva atividade, sendo ela relacionada ou não a tal modalidade, pode ter prejuízos", conclui.
Falando de comportamento e criação de personalidades, o psicólogo informa que os jogos podem alterar os ânimos “momentaneamente”, assim como qualquer outra atividade que exija uma atenção e desempenho da pessoa. “Não existem estudos contundentes provando que a mudança de humor momentânea provocada pelo jogo conduz a consequências de longo prazo. Sendo assim, não é possível afirmar que jogos violentos sejam capazes de formarem pessoas violentas”, confirma Fricate.
Censura e tempo de exposição
Todos os jogos licenciados originalmente possuem uma censura em relação à faixa etária (Crédito: Alysson Moura)
Apesar de haver a censura estampada na capa dos jogos licenciados, nem todas as crianças ou jovens respeitam esta limitação, tão pouco os pais supervisionam e selecionam o que os filhos devem jogar. Um dos jogos mais populares é Grand Theft Auto, indicado para jogadores com 18 anos, pois possui conteúdos impróprios para diferentes idades, como violência, palavras de baixo calão, drogas e conteúdo sexual.
Rodrigo Fricate lembra que é importante os pais supervisionarem quais jogos os filhos podem jogar. Contudo, devem também se preocupar com a relação paternal, não utilizar os games para entreter a criança e sim passar um tempo com ela. “Atualmente é comum encontrar famílias que deixam a criança horas a fio na frente dos celulares e vídeo games, para que elas não ‘incomodem’”, esclarece.
O tempo de exposição em frente a televisores, monitores, celulares e tablets também é algo a se discutir. A médica oftalmo-pediatra do Hospital de Olhos do Paraná, Luiza Hopker, explica sobre um problema que pode ser causado por muitas horas na frente dos televisores, a síndrome do olho seco. Ela também enfatiza no tempo correto do uso dos aparelhos e quando as crianças devem ter o primeiro contato com os games. Confira a entrevista na íntegra.
Jovens passam de cinco a oito horas jogando vídeo game sem pausas (Crédito: Alysson Moura)
Porém, nem tudo é ruim: os jogos também podem ser fontes de novas maneiras de aprendizado e ferramentas para desenvolver diferentes habilidades. O psicólogo Fricate propõe que existem novos estilos de jogos eletrônicos de ação, que estimulam o companheirismo e as atividades em equipes como Borderlands, Diablo três e Left4Dead.
“Cada vez mais surgem jogos que, além de entreter, ensinam conteúdo e desenvolvem habilidades, gerando benefícios como: contato com línguas estrangeiras, desenvolvimento de capacidades intelectuais, treino das funções cerebrais executivas, e etc....", constata ele. Os jogos de movimentos também podem ser uma boa alternativa, pois são jogos que estimulam a prática de exercícios, como os populares Zumba e Just dance, onde o jogador tem de repetir os movimentos de dança produzidos pelo computador. Há também jogos de esportes, como tênis, golfe, boliche, entre outros, que funcionam da mesma forma, a partir dos movimentos do corpo.
O que os jogadores podem falar como experiência própria
Em média, as crianças ficam muito mais tempo na frente de uma televisão do que é o adequado conforme a pesquisa do IEEE. O adolescente de 15 anos Alex Leal gosta de jogar vídeo game desde criança. O gosto começou com seu irmão mais velho: “Nosso primeiro game foi um Nintendo, mas eu não me lembro do que eu jogava ao certo porque era pequeno”, conta.
Alex começou a jogar jogos eletrônicos com pouco mais que 12 anos.“Eu gostava de jogar os jogos mais educativos e que faziam a gente pensar, o que eu mais gostava era Crash”, respondeu. Alex disse que seus pais eram rigorosos com os jogos que ele e o irmão jogavam, sempre estavam de olho no conteúdo apresentado. “Jogos de tiro em FPS (First Person, câmera em primeira pessoa) eu só joguei depois dos 13, 14 e GTA só agora com 15”.
Crash Bandicoot é um dos jogos mais famosos das franquias da primeira versão do console Playstation, da Sony (crédito: Epicplay)
Para os pais de Alex, Adão e Marília Moura, é importante manter o equilíbrio entre a diversão dos jogos, e o rendimento escolar. “Ele gosta muito destes jogos, então sempre demos liberdade para jogar, mas o que fosse de nosso agrado, até por isso ele optou por fazer um curso de T.I. (tecnologia da informação), para aprender a desenvolver jogos e trabalhar com isso”, confirma o pai. Em relação ao cuidado com os conteúdos demonstrados nos games, eles falam que sempre verificavam os jogos, para não acelerar o processo de aprendizagem a respeito de temas inapropriados abordados nos enredos dos jogos.
Ainda não tem uma definição se os jogos podem ser nocivos ou possam desencadear ações inesperadas em longo prazo. Os jogos eletrônicos têm suas qualidades, é uma ferramenta de aprimoramento de habilidades como o próprio psicólogo disse, e estes têm papel fundamental na assistência para alguns métodos de aprendizagem, essencialmente falando em tecnologia e uso delas nas escolas.
Para se ter uma noção do que é apresentado nos jogos atuais, confira um vídeo compilado com jogos populares entre crianças e jovens com classificação +17.
Jogos violentos não formam pessoas violentas, segundo Fricate. (Crédito: Alysson Moura)