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Por Letícia Carstenzen e Diego Augusto

Quando o anticoncepcional torna-se vilão da história

Os crescentes casos de doenças envolvendo a pílula anticoncepcional criam alerta sobre o uso do medicamento

Efeitos causados pelos anticoncepcionais deixam em alerta mulheres e médicos. (Crédito: Letícia Carstenzen)

O uso de anticoncepcionais tornou-se um dos métodos mais efetivos para mulheres que buscam usufruir dos benefícios deste medicamento, não só no planejamento da gravidez, mas na regulagem do ciclo menstrual e nos casos de tratamentos de síndrome do ovário. Mas, o que acontece quando o uso da pílula passa a se tornar um dos principais fatores de desencadeamento de doenças?

Entre os anticoncepcionais mais utilizados entre as mulheres está a pílula. Segundo a última pesquisa sobre o assunto realizada pelo Ministério da Saúde, em 2006, o contraceptivo é o mais utilizado por 71,3% das brasileiras. Porém, nos últimos anos, os casos envolvendo o uso do medicamento a doenças, como embolia pulmonar e trombose venosa cerebral, reabriram o debate sobre o seu uso.

O caso envolvendo a estudante de medicina veterinária, Juliana Bardella, 22 anos, é um dos que recolocou em discussão o quanto o medicamento pode ser fator de risco para desenvolvimento de doenças. No começo de agosto, a jovem sofreu um quadro de trombose venosa cerebral, depois de apresentar sintomas como dores de cabeça e fraqueza. A estudante foi levada ao hospital onde, no primeiro momento, foram receitados analgésicos.

Depois de dois dias com a lentidão de movimentos de mãos e pernas, Juliana voltou ao hospital onde foi diagnosticada com trombose. Após 15 dias de internação, foi confirmado que a doença foi causada pela pílula anticoncepcional. A jovem utilizava o medicamento há cinco anos.

Em entrevista à revista EntreVerbos, Juliana conta o que sofreu antes de ser diagnosticada com a doença. “Fiquei com dor de cabeça por três semanas; quando procurei um hospital, a médica me passou um analgésico falando que iria passar”, relata.

Após dois dias, a estudante sentiu seus movimentos começarem a ficar mais lentos, começou a passar mal, perdendo a noção do local que estava. “No primeiro momento, não conseguia usar o celular, tive que pedir ajuda para as minhas amigas para ligar para os meus pais e ir ao hospital”, lembra a estudante.

Encaminhada ao hospital, Juliana foi perguntada sobre a utilização do medicamento e avisada de que a pílula poderia ser a causa da trombose. “Utilizava o medicamento há cinco anos e nenhum ginecologista me alertou sobre o risco de desenvolver trombose”, desabafa Juliana.

Depois de 15 dias internada, sendo três na UTI, foi confirmado que a doença estava relacionada ao uso do contraceptivo. Os relatos sobre os malefícios dos anticoncepcionais aumentarem nos últimos dois anos. Os casos já aconteciam antes, mas só começaram a ter mais visibilidade há pouco tempo.

Em 2011, a publicitária e designer Kamaia Medrado sofreu um AVC em decorrência do uso de anticoncepcionais. Três anos depois, Kamaia contou em seu blog “Sem memória”, os sintomas e as consequências que sofreu com a utilização do medicamento.

Kamaia relata o drama que sofreu em 2011 (Crédito: Divulgação Youtube/ Kamaia Medrado)

Kamaia criou a página no facebook “Vítimas de anticoncepcionais. Unidas a favor da Vida”, que busca ajudar e receber relatos de mulheres que tiveram problemas de doenças relacionados ao uso de anticoncepcionais. A página, criada em 2014, conta com mais de 135 mil seguidores e já recebeu mais de mil relatos de mulheres que sofreram algum caso de doença envolvido ao contraceptivo.

O principal objetivo é alertar o público e a Agência Nacional De Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre os riscos desses medicamentos circularem sem o pedido de prescrição médica, questionando sua contribuição para o desenvolvimento de doenças.

Página ajuda mulheres relatar os casos sobre o uso da pílula. (Crédito: Divulgação Facebook)

O que diz a Anvisa e os especialistas

Mesmo não comprovada, a utilização das pílulas é apontada como um dos principais responsáveis para o surgimento de doenças como a trombose venosa. Um estudo realizado pela Anvisa indicou que mulheres que usam anticoncepcionais com compostos de drospirenona, gestodeno ou desogestrel têm um risco de quatro a seis vezes maior de desenvolver tromboembolismo venoso em um ano, do que mulheres que não usam anticoncepcionais hormonais combinados.

De acordo com a ginecologista Nariman Youssef, as chances de usuárias desenvolverem a doença a partir do uso da pílula anticoncepcional variam de acordo com a predisposição do organismo da paciente. “Mulheres que têm algum histórico de enxaquecas e dores de cabeça frequentes possuem mais chances de desenvolver doenças como a trombose, não sendo o único fator determinante para o seu surgimento”.

Ainda segundo a ginecologista, o mais indicado antes de utilizar qualquer contraceptivo é consultar um médico para realizar os devidos exames e procedimentos para evitar futuras contraindicações. “Antes da utilização de qualquer anticoncepcional, é de fundamental importância realizar os exames preventivos, verificar todo o histórico da paciente e avaliar os medicamentos que estão sendo tomandos”, ressaltou Nariman.

Os efeitos dos anticoncepcionais vão além das consequências físicas

O que algumas mulheres não sabem é que o uso dos anticoncepcionais podem causar alterações no humor e até mesmo resultar em casos de depressão. Foi o que aconteceu com Ezabelle de Oliveira, 23 anos, uma policial militar que há cinco anos fazia uso contínuo do medicamento. “No princípio, sentia uma mudança de humor constante. E, por fim, eu percebi que estava ficando deprimida demais; tanto que final do ano passado tive que pegar atestado no trabalho”, relata.

Após perceber os efeitos que o uso do anticoncepcional gerava em seu organismo, Ezabelle optou em parar com a medicação e percebeu uma melhora considerável. “Desde que parei de tomar, eu senti uma melhora em tudo. No meu humor, no meu corpo e na minha relação com as pessoas", declara.

Mas, porque os anticoncepcionais podem causar depressão? Foi isso que um recente estudo realizado pelos cientistas da Universidade de Copenhagen, na Dinamarca, procurou responder. O estudo tinha como objetivo verificar se os métodos que compõe progesterona e estrogênio (hormônios femininos) poderiam resultar em problemas psicológicos como a depressão.

Após o uso dos medicamentos, os diagnósticos de depressão foram confirmados em mais de um milhão de mulheres com idade entre 15 a 34 anos. O estudo ainda mostrou que a chance é três vezes maior para mulheres que usam métodos não orais, como o adesivo.

Vale lembrar que o corpo de cada mulher pode reagir de formas diferentes, por isso a orientação é sempre procurar um médico antes de tomar qualquer decisão.

Veja abaixo os principais benefícios e malefícios do uso dos anticoncepcionais.

Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (Crédito: Diego Augusto).

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