O mundo virtual pode trazer consequências como o isolamento e súbitas mudanças de comportamento
Crianças trocam brinquedos casuais pela tecnologia. (Crédito: Camila Mattiollo)
De bonecas, bicicletas e carrinhos para computadores, smartphones e tablets. Com a fácil acessibilidade à internet, crianças e jovens usarem todos os dias as redes sociais e aplicativos se tornou comum. Dessa forma, o vício e a dependência de estar sempre conectados afeta a vida não apenas das crianças, mas também de seus pais.
Uma pesquisa realizada pela AVG Technologies em 2015, empresa de segurança online, revela que 42% das crianças ouvidas sentem que seus pais passam mais tempo no celular do que com eles. A psicóloga Fernanda de Camargo relata que a falta de atenção dos pais com seus filhos influencia no comportamento, na aprendizagem e pode trazer traumas no futuro. “Com o comportamento alterado, a criança pode apresentar maior agressividade, tudo como forma de ser visto pelos pais e, como consequência, a dificuldade de aprender e até mesmo de respeitar os adultos que estejam responsáveis por eles”.
Por conta dessa falta de atenção e de que tudo é disponível, alguns pais esquecem de que há perigos na internet. Fernanda afirma que toda criança precisa ser observada e que é preciso ter em mente que também há pedofilia na internet. Ao não ser vigiada, a criança entende que está sem limites, pois os adultos a deixam fazer tudo.
Como a maioria dos próprios brinquedos de hoje são eletrônicos , a criança mantém contato com a tecnologia desde o nascimento. Para a psicóloga, o ideal é que o contato com a internet só comece a partir dos 5 ou 6 anos e com limites de 30 minutos a uma hora, e que sempre haja o monitoramento dos pais.
O isolamento e a troca de brincadeiras ao ar livre podem causar várias consequências, principalmente às crianças. Sedentarismo, obesidade, falta de vitaminas por não se expor ao sol, dificuldade de relacionamentos com outras pessoas da mesma idade, e até mesmo dificuldades na alimentação e sono são algumas delas.
Para os adolescentes, a adaptação com os meios tecnológicos pode influenciar mais do que em sua saúde, mas também na sua vida social. Além dos hormônios, corpo e personalidade mudando, os jovens lidam com o fato de serem aceitos dentro de um grupo social, e com a internet isso se eleva mais. Fernanda alerta que “vivemos a época da exposição onde tudo é mostrado sem limites ou pudores na internet e a irritabilidade nos jovens aumenta. É preciso que os pais tenham o hábito de conversar e conhecer a fundo seus filhos para evitar os traumas e melhorar o comportamento dos adolescentes”.
(Fonte das informações: Internet Matters (2016)/ Produção:Camila Mattiollo)
Internet: vilã ou amiga?
Lilian Toews, psicóloga desde 1997 e especialista em educação inclusiva, conta que a internet não é a vilã, ela é a enciclopédia de ontem, contendo jogos educativos acessíveis e variados, aprendizagem musical e até de atividades corporais. “O que se torna negativo é deixar a internet como ferramenta livre o tempo todo, roubando atenção de outras atividades e momentos importantes”, diz.
Gláucia Schirmann, mãe do Gustavo Henrique de 22 anos e da Vitória Ribeiro de 10 anos, conta que o filho mais velho mora no sudoeste do estado do Paraná e os aplicativos facilitam na comunicação. “Ele mora com o pai desde os 12 anos e naquela época mal podíamos falar por telefone. Agora está mais fácil. Há mensagens de voz instantâneas e vídeo chamadas onde podemos nos falar sempre”.
É diferente com a filha mais nova, Vitória. “Ela está de castigo há duas semanas sem celular por terem me chamado na escola. Deixo o celular nos finais de semana para os trabalhos da escola, mas, enquanto não melhorar, não terá o celular”.
Lilian conta que os pais têm procurado ajuda sobre como lidar com seus filhos no ambiente virtual. “Geralmente quando o uso do ambiente virtual invade os limites de tempo para a vida cotidiana, como horário de sono, lazer, estudo, e há prejuízo importante em alguma(s) área(s), principalmente no aproveitamento escolar e segurança pessoal pela exposição a desconhecidos que esta ferramenta pode trazer”, relata.
O antigo é raro
É raro nos dias atuais ver pais e filhos fazendo programas juntos como antigamente. Encontrar nas ruas crianças jogando bola, brincando de boneca em grupo ou ainda de um simples esconde-esconde se tornou algo esquecido e que muitas crianças já não sabem o que é. As próprias mães contam que antigamente havia mais conversas e amizades, e que hoje cada um tem o seu mundo dentro da própria casa.
É inusitado alguém saber seu telefone fixo e ligar ou então enviar uma carta para sua casa, diz a psicóloga Fernanda de Camargo. “É raro ouvir de alguém que ligou para os pais que moram em outra cidade, ou mesmo morando na mesma cidade. O que vejo são famílias inteiras participando de grupos de WhatsApp onde todos falam, mas poucos se conversam”.
Apesar da troca de contato físico pelo meio virtual, a especialista Lilian Toews diz que ainda há incentivos para o contato social. “Há pesquisas demonstrando que o uso das tecnologias eletrônicas tomou conta do cotidiano das pessoas e suas atividades modificaram-se de forma bastante significativa. Mas, parece haver por parte de segmentos da sociedade uma ação de conscientização sobre a necessidade do contato humano direto, dos momentos de conversa entre familiares, amigos e meios sociais que as pessoas frequentam”, diz.