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Por Diego Alesson Alve e Diego Augusto Duarte

Quando o palco é a rua

A situação das apresentações artísticas nas ruas em Curitiba

Peça "A Loucura de Isabella" (Crédito: Diego Augusto/Diego Alesson Alves)

Ao andar pelo centro da cidade, pode-se observar várias apresentações de artistas. São cantores, pintores e atores que decidem, por vontade própria ou por necessidade, fazer das calçadas seu palco. Quem passa se encanta com tanto talento e criatividade. Basta algum artista começar a se apresentar, que logo admiradores se reúnem.

Próximo à "Boca Maldita", no centro de Curitiba, há uma maior concentração de artistas. Ali temos o famoso Plá, que com um violão entoa músicas de sua autoria, e o pintor Leandro, que produz seus quadros ali mesmo, pintando com spray paisagens. Porém, não são fáceis as formas de se manter nesta área. Os artistas reclamam muito sobre a falta de apoio.

Artistas de rua dependem unicamente das contribuições feitas pelas pessoas que assistem ou compram suas obras. Se alguém quer se apresentar nas ruas, não pode simplesmente escolher o local e começar sua manifestação artística. É necessário autorização da prefeitura para usar a via pública. É necessário solicitar um alvará na Secretaria de Urbanismo. Segundo os artistas, isso não é tão difícil, mas há exigências impostas pela prefeitura ou falta agenda (porque já está lotada).

Em junho de 2016, o então prefeito Gustavo Fruet sancionou uma lei que regulamenta as apresentações dos artistas de rua em Curitiba. A nova lei autoriza os artistas a executarem os espetáculos em praças, parques, largos, vias públicas, porém, os artistas não poderão utilizar palcos ou qualquer estrutura sem autorização da administração municipal, além de obedecer à lei do sossego e o horário das apresentações, que a partir de agora ficaram definidos das 8h às 22h.

Um exemplo de arte de rua é o grupo teatral “Arte da comédia”, que já apresentou a peça “A loucura de Isabella” em frente à Universidade Federal do Paraná. Nesse caso, a plateia assiste à peça sentada na escadaria da universidade. Com um palco totalmente desmontável, o grupo reuniu dezenas de pessoas nas suas apresentações. Segundo o ator Lucas Santos, 21 anos, as peças são textos adaptados de Roberto Inocente, que transforma o texto no formato teatral.

Ruvier Gomes também é ator e tem sua própria companhia, batizada com seu nome. Ele conta que fica muito feliz quando vê uma peça como “A loucura de Isabella”, que faz do drama uma comédia. Gomes, que já é experiente nessa área, fica contente em ver os mais jovens atuando. “O nosso trabalho é recompensado pelo carinho do público”, ressalta o ator.

As dificuldades do teatro de rua de Curitiba

A arte nas ruas é considerada uma importante expressão da cultura nacional. As diversas formas artísticas de rua contribuíram para que músicos, artistas de circo, pintores e artesãos divulgassem seu talento ao público, em busca da conquista de espaço. Muitas vezes, a falta de apoio financeiro, tanto de empresas privadas como de órgãos públicos, dificultam a realização dos espetáculos. Outros fatores, como falta de espaços públicos adequados, equipamentos defasados e ruídos externos também são considerados as principais dificuldades para a execução de peças teatrais nas ruas.

Em entrevista à revista EntreVerbos, o ator Lucas Santos fala sobre a dedicação dos atores, todos independentes, para a produção da peça. “Tem que estar disposto a fazer na raça mesmo, a produção do ensaio é muito longa, tem uma qualidade técnica de marcação, movimento e voz que não tem como ensaiar quatro horas por dia de tarde. Mas, como somos artistas independentes, se não fizer, a gente não come... De qualquer maneira, a gente acaba se virando”.

Segundo o ator, a maioria dos grupos de teatro de rua trabalha de forma independente. “O público gosta bastante do espetáculo, o que precisamos é de empresas privadas para apoiar e dar esse incentivo - não só pra nós, mas para outros grupos -, além de ter um ponto para as apresentações", comenta.

Para Gomes, que vive em Ponta Grossa, o público deveria apoiar o teatro, reconhecendo como o espetáculo contribui na cultura de Curitiba. “Todos que gostam de cultura têm que frequentar esse tipo de espetáculo. Ele apresenta para nossa cidade o verdadeiro valor do teatro de rua”, destaca.

Segundo este ator, a união entre os grupos e companhias de teatro com empresas de diferentes ramos fortaleceria para que o teatro não venha se acabar futuramente. A falta de apoio seria o principal fator para que a cultura do teatro de rua enfraquecesse e acabasse em várias cidades. “Em outras cidades, houve um fracasso tão grande que não tem mais nenhum grupo de teatro. Nós temos que se unir com essas empresas para que o teatro de rua e o teatro de palco nunca se acabem”.

Gomes relata que a falta de confiança, a burocracia e, principalmente, o fator financeiro tornam-se empecilhos para que as empresas não patrocinem os artistas. “O anonimato nos deixa muito retraído e sem o apoio financeiro causa uma dificuldade muito grande. Eu, por exemplo, estou fazendo um filme, fui em diversas empresas pedir apoio e a única resposta que recebo é quanto a empresa vai ganhar financeiramente”.

Outra questão é o poder financeiro do público que assiste aos espetáculos. As peças de teatro chegam a custar preços exorbitantes em teatros renomados pela cidade, gerando a elitização do público que tem acesso a esse tipo de cultura. Segundo Ruvier Gomes, as peças de teatro têm que ser apresentadas na rua “passando o chapéu” ao final do espetáculo.

No entanto, Gomes aponta que, quando vem um espetáculo de fora, o público paga de R$200,00 a R$300,00 para assistir uma peça. “Para se apresentar no teatro aí tem que ter grana para comprar o espaço e fazer sua apresentação, isso é doloroso, isso nunca poderia acontecer”. Porém, a esperança de dias melhores na cultura de rua é o que motiva a continuar no ramo teatral. ”Para quem gosta da arte, o teatro de rua jamais vai enfraquecer”, relata em tom otimista.

Grupo Arte da Comédia (Crédito: Diego Augusto/Diego Alesson Alves)

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