No mês de conscientização sobre o autismo, especialistas apontam que há vários aspectos a serem melhorados
Símbolo do autismo: o quebra-cabeça representa a complexibilidade do autismo. (Crédito: Creative Commons)
Todo 2 de abril comemora-se o Dia Mundial da Conscientização do Autismo. Essa data foi criada pela Organização das Nações Unidas no ano de 2007 para a conscientização do autismo na sociedade. Porém, mesmo com uma data para a conscientização, pessoas com autismo sofrem para serem incluídas socialmente e, principalmente, na realização de tarefas comuns do dia a dia, como ir à escola.
No ano de 2012 foi aprovada a lei que garante que pessoas com autismo tenham os mesmos direitos de pessoas portadoras de outras deficiências. A Lei n°12.764/12 faz com que os autistas passem a ser consideradas oficialmente pessoas com deficiência, tendo direito a todas as políticas de inclusão, como na educação.
A lei determina que o autista tenha direito de estudar em escolas regulares, tanto na educação básica quanto no ensino profissionalizante, e, se necessário, pode solicitar um acompanhante especializado. Porém, para a pedagoga Anny Castilhos, que já trabalha com crianças autistas há quatro anos, nem sempre as instituições estão preocupadas com essa inclusão. “As escolas não estão nem um pouco preocupadas, o que as preocupa é apenas a questão financeira, pois como é lei, elas são obrigadas a aceitar qualquer tipo de inclusão nas escolas. Não podemos afirmar que todas as escolas pensam apenas financeiramente, mas infelizmente é a minoria que trabalha a questão inclusão com seriedade.”
Apesar de todo o avanço já conquistado pelos autistas na inclusão de ensino e outras questões sociais, ainda existem muitos pontos a serem discutidos e conquistados. A pedagoga ainda afirma que, muitas vezes, as escolas não estão preparadas para receber crianças ou adolescentes com autismo: “Infelizmente não há investimento em recursos ou materiais apropriados. Nem existem professores qualificados e disposto a adquirir está qualificação.”
A especialista em autismo Patrícia Villar afirma que há desafios que se estendem para depois da formação, embora hoje já seja discutido nas instituições educacionais como criar oportunidades para os alunos ingressarem no mercado de trabalho. "Sentimos muita dificuldade de criar parcerias com empresas para estes jovens que muitas vezes tem habilidades bem restritas", afirma.
Diferenças nas formas de inclusão
A professora Patrícia Villar é pós-graduada em Ciência do Comportamento Aplicada (ABA) e trabalha em Toronto. Já fez vários cursos sobre autismo no Geneva Centre for Autism, entre eles: Interventor do Autismo, Estilos de Aprendizado de Indivíduos com Autismo. Ela também criou a página do Facebook chamada “ Autismo e Ensino”, voltada para pessoas que convivem, trabalham ou tem interesse em educação especial voltada para autistas.
Página voltada para questões relacionadas ao autismo. (Crédito: Divulgação Facebook)
Atuando fora do Brasil há bastante tempo, Patrícia vê diferenças na forma de inclusão de autista entre o Brasil e Canadá. “Aqui em Ontario há um trabalho de preparar todos os envolvidos para a inclusão. Em primeiro lugar, o grupo multidisciplinar e a família se reúnem para decidirem o melhor caminho para inclusão, levando em conta também se a criança é apta a seguir o currículo regular ou seguirá um currículo modificado.”
A professora diz que todo esse processo é feito, porque, muitas vezes, as crianças ainda não estão preparadas para serem incluídas em uma turma regular. “Às vezes, a criança ainda não tem habilidades para integrar 100% uma turma e ela é encaminhada para o que chamamos de comunidade, onde as crianças aprendem habilidades que vão ajudá-las na turma regular. Como, por exemplo, sentar na cadeira por um período longo, levantar a mão quando tem uma pergunta, estratégias para se acalmar", relata.
Muitos pais brasileiros entram em contato com Patrícia pela página para relatar como a inclusão está sendo realizada aqui e o que contam nem sempre é agradável. "Tenho a impressão que, no Brasil, as crianças estão sendo jogadas nas salas de aula com um assistente e que o professor e assistente ficam com a responsabilidade de ensinar a criança o currículo regular. Os professores não estão recebendo treinamento para ter crianças com necessidades especiais na sala de aula", desabafa Patrícia.
Na opinião da especialista, o sistema público educacional brasileiro é ruim, tanto que os governantes colocaram leis que devem ser obedecidas inclusive pelas escolas particulares - o que não acontece no Canadá. "A maioria das crianças estudam em escolas públicas, incluindo crianças com necessidades especiais. Os pais participam da escola e exigem educação de qualidade para seus filhos no sistema publico", destaca.