Últimos dados divulgados pelo IBGE mostram que das mais de 190 milhões de pessoas entrevistadas no Brasil, aproximadamente 10 milhões tem algum grau de deficiência auditiva.
Thayse Goulart Strazzi faz o sinal de lei em Libras. (Crédito: Liliane Jochelavicius)
Quinze anos é uma idade tradicionalmente comemorada com vestido longo no salão principal. Para comemorar essa data especial vamos apresentar a Língua Brasileira de Sinais, a Libras, para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade do encontro.
Não é a única do mundo, nem a primeira. Cada país tem sua própria língua de sinais, embora alguns usem a mesma. Além disso, há vários “sotaques”, como é o caso do Brasil. É uma língua tão complexa quanto qualquer outra, com gírias e frases de duplo sentido.
A Lei 10.436, de 24 de abril de 2002, regulamentada pelo Decreto 5.626/2005, não torna a Libras uma língua oficial do Brasil como explica Cleverson Rogério dos Santos, que está concluindo o curso de Letras-Libras na Universidade Federal de Santa Catarina. Se assim fosse, todos os documentos oficiais precisariam ter uma versão em Libras. O que a Lei faz é reconhecer esta língua como um meio legal de comunicação da comunidade surda. No Paraná, ela foi reconhecida em 1998 pela Lei 12.095.
Para entender o papel da Lei 10.436 para a comunidade surda, Thayse Goulart Strazzi que é surda e estudante do curso de Letras-Libras na UFPR, fala sobre sua importância:
Thayse Goulart Strazzi fala da importância da Lei 10.436. (Crédito: Liliane Jochelavicius)
Um pouco de história
Embora a Lei tenha apenas 15 anos, a Libras é mais antiga. Segundo Santos, ela é uma língua independente do português, que tem gramática específica. A comunicação é feita pelo uso de sinais próprios da língua, embora faça uso do alfabeto manual em alguns momentos.
Em 1855 Eduard Huet apresentou a Dom Pedro II a proposta da criação de uma escola para surdos. Ele já havia sido diretor de instituição para surdos na França. Por isso, a Libras tem semelhanças com a Língua de Sinais Francesa.
A partir da proposta de Huet, no dia 1º de janeiro de 1856 começou a funcionar o “Collégio Nacional para Surdos-Mudos de ambos os sexos”. Hoje a expressão surdo-mudo não é mais utilizada, foi retirada do nome da instituição em 1957. A escola passou a se chamar Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).
A Libras nem sempre foi reconhecida como Língua, antes era chamada de linguagem. Em 1960, Willian Stokoe estudava a língua de sinais americana com um tratamento linguístico. A Libras e as outras línguas de sinais possuem fonologia, morfologia, sintaxe e semântica.
A palavra mudo não deve ser usada quando falamos de surdos, por um motivo simples: eles não são mudos. Eles têm a capacidade de falar e alguns a desenvolvem. De acordo com os especialistas entrevistados, não se deve chamar um surdo como surdo-mudo ou mudo.
Em muitos lugares, como em leis ou estatísticas, há o uso da expressão deficiente auditivo. Como está determinado no próprio Decreto 5626, Art. 2o , “[...] considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras.” O deficiente auditivo é aquela pessoa que, com diferentes graus de perda auditiva, não faz uso da Libras.
No gráfico abaixo veja a quantidade de surdos no Brasil e no Paraná.
(Fonte de informação: IBGE/ crédito: Liliane Jochelavicius)