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Por Kelen Andressa de Souza

Tecnologia a favor da recuperação de movimentos

O PediaSuit é um protocolo de fisioterapia que foi inspirado no trabalho de cientistas para restaurar as funções motoras e cognitivas dos astronautas que voltavam do espaço

Durante o tratamento, o paciente é preso por elásticos que o deixam em pé e alinhado enquanto realiza diversas atividades para o fortalecimento muscular e a coordenação motora. (Crédito: Arquivo do Pequeno Cotolengo)

Curitiba já conta com um novo recurso tecnológico para ampliar a missão de melhorar a qualidade de vida e proporcionar inclusão social às pessoas com deficiências múltiplas. Em maio iniciaram os tratamentos com o PediaSuit, um método terapêutico, inspirado nos astronautas, que visa o desenvolvimento motor, o reforço muscular, o equilíbrio e a coordenação motora de pessoas com distúrbios neurológicos, como paralisia cerebral, atraso no desenvolvimento, lesões traumáticas cerebrais, autismo e outras condições que afetam as funções motoras e cognitivas. A prática foi adotada pelo Pequeno Cotolengo, instituição que acolhe e oferece saúde e educação a pessoas com deficiências múltiplas (físicas e intelectuais) de todas as idades que foram abandonadas por suas famílias.

O PediaSuit é um protocolo de fisioterapia realizado com a utilização mútua de um macacão (chamado de PediaSuit ) e uma gaiola de metal, no qual o paciente veste o traje e é preso por elásticos que o deixam em pé e alinhado enquanto realiza diversas atividades para o fortalecimento muscular, coordenação motora, melhora do equilíbrio, controle de postura entre outras vantagens. O tratamento intensivo realizado na instituição consiste em quatro horas diárias, de segunda a sexta-feira, durante um mês inteiro.

O Pequeno Cotolengo é a única organização de caridade a oferecer o método no Paraná. (Crédito: Arquivo do Pequeno Cotolengo)

Ângela Carine Rech, que é uma das fisioterapeutas capacitadas para aplicar esse método na instituição, conta que os pacientes que já passaram pelo protocolo completo tiveram progressos significativos em seus quadros. “Eles melhoraram a postura, a coordenação motora e, em alguns casos, por exemplo, já conseguem dar alguns passos na esteira”. Segundo Ângela, o PediaSuit é um método completo que traz um resultado muito visível dentro dos dias em que é aplicado, que não foi possível com as outras terapias oferecidas na instituição.

A fisioterapeuta explica que cerca de 60 moradores do Pequeno Cotolengo tem o perfil para realizar o PediaSuit, pois há algumas restrições para a aplicação do método. “Quando é feita a avaliação, nós pedimos um raio-X de coluna e um de quadril, porque o paciente não pode ter mais de 35° de escoliose, por exemplo”. Casos de hidrocefalia e pessoas que tem convulsão e hipertensão também podem ter restrições para a aplicação do método.

A implantação do projeto PediaSuit no Pequeno Cotolengo foi possível graças à destinação de verba de uma ação judicial encaminhada à instituição pela procuradora do Ministério Público do Trabalho da 9ª Região de Curitiba, Marilia Massignan Coppla. O Pequeno Cotolengo possui todos os equipamentos e duas profissionais habilitadas nesse protocolo de fisioterapia e é a única organização de caridade a oferecer o método no Paraná, além de ser uma das poucas a oferecer o tratamento em todo país.

Renaldo Amauri Lopes, presidente do Pequeno Cotolengo, fala sobre a importância da implantação do PediaSuit na instituição.

(Créditos: Kelen Andressa de Souza e Emanuel Andrade)

O PediaSuit

A origem do PediaSuit, em 1971, foi inspirada no trabalho de cientistas russos que criaram um método para restaurar as funções motoras e cognitivas dos astronautas que voltavam do espaço. Por volta dos anos 1990 começou a se observar esse método mais voltado para a terapia, pois os danos causados aos que enfrentam a falta de gravidade – atrofia muscular, por exemplo – eram semelhantes aos dos pacientes com paralisia cerebral.

Em 2006, o protocolo PediaSuit foi efetivamente criado pelo terapeuta ocupacional Leonardo Oliveira, na Flórida (EUA), que experimentou pela primeira vez em seu filho Lucas, que tinha hemiplegia (paralisia da metade do corpo). Quando constatou os resultados positivos que o tratamento trouxe, começou a expandir para o mundo.

O equipamento consiste em colete, touca, shorts, joelheiras, calçados e um sistema de elásticos ajustáveis, posicionados para reproduzir a musculatura. Este equipamento fica dentro do Spider, uma gaiola de metal. Ao trabalhar com os elásticos e a roupa, o PediaSuit consegue corrigir e restaurar movimentos.

Um sonho realizado

Jefer Carlo de Souza, morador do Pequeno Cotolengo, tem paralisia cerebral e passou pelo protocolo completo do PediaSuit. Aline Brandalise, assessora de imprensa do instituto, contou que Jefer já tinha pesquisado muito sobre o método e seus resultados, e dizia que tinha muita vontade de fazer o tratamento. Por esse motivo, foi o primeiro a inaugurar oficialmente o PediaSuit na instituição.

Depois da aplicação do método, Jefer progrediu muito. “As melhoras são visivelmente significativas em 30 dias de tratamento. O Jefer, antes do tratamento, quase não mexia o corpo. Depois de ter passado pelo método, ele consegue se movimentar muito mais e já consegue ficar sem as proteções que antes eram necessárias para ele se manter alinhado”, conta Aline.

Jefer Carlo de Souza foi o primeiro a fazer o tratamento em Curitiba. (Crédito: Arquivo do Pequeno Cotolengo)

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