Pesquisadores da Comunicação avaliam contexto das novas diretrizes
Mesa de debate sobre novos cenários no ensino. (Crédito: Aliana Machado)
"Qual tema estamos estudando que pode ganhar maior força e contribuir para garantir na atualidade das teorias com as quais dialogamos para pensar na América Latina?", pergunta a professora de Jornalismo Karina Woitovicz. Esta é apenas uma das questões levantadas por professores e pesquisadores da área da Comunicação e, de forma específica, do Jornalismo, que buscam encontrar sobre novas formas de ensino. O encontro de intelectuais
da área trouxe reflexões sobre a consolidação do campo e suas teorias.
Luis Mauro Sá Martino, doutor em Ciências Sociais, afirma que um dos problemas enfrentados hoje é a consolidação de um espaço marcado por inclusões e exclusões, "onde fizemos opções éticas, metodológicas e temos maneiras de ver o mundo”. Para Sá Martino, tais escolhas, muito arbitrárias, refletem a natureza epistemológica do campo da Comunicação e no pouco consenso que ainda existe entre quais seriam as teorias fundamentais da área.
Há várias teorias e diferentes maneiras de ministrar a disciplina "Teorias das Comunicação". Edgard Rebouças, jornalista e professor de Comunicação Social, confirma que antigamente não tínhamos os livros de Teorias da Comunicação, que começaram a surgir a partir de 2000, de forma mais sistematizada. "Os profissionais da área aqui no Brasil não tinham o hábito de ler o que seus vizinhos, os colegas da América Latina escreviam", destaca. "Felizmente de lá para cá, a gente ganhou um grande acréscimo de bibliografias para o uso em sala de aula”, conclui. Mesmo assim, as variações de enfoques permanecem.
Sob a ótica do ensino, Sá Martino lembra que não é difícil encontrar professores que entendem como uma certa "punição" ministrar as matérias de teorias e metodologias. "Em uma instituição na qual trabalhei, quando eu pedi a aula de metodologia, o coordenador me olhou surpreso e imediatamente me deu a disciplina. Todos os colegas do corpo docente me agradeciam", relata.
Apesar dos impasses que envolvem esta temática, a pesquisa brasileira avançou bastante nas últimas décadas. O professor e investigador Raul Fuentes Navarro conta que há um cuidado muito maior de algumas práticas de ensino e pesquisa no Brasil comparado aos demais países da América Latina. Ele ainda afirma que a importância da comunicação está cada vez maior, mesmo que a importância de se estudar comunicação não seja evidente.
As novas diretrizes dos cursos de Comunicação
A proposta das Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Jornalismo busca pensar em questões próprias do jornalismo. Porém, para a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, a Compós, a proposta das novas Diretrizes Curriculares fraciona e estreita a formação jornalística, prejudicando a formação do novo comunicador, que não será mais tão multifuncional. O atual cenário de reforma curricular busca tirar disciplinas e conteúdos mais amplos, do campo da Comunicação. Dessa forma, os acadêmicos acabam estudando de fato a Comunicação apenas na pós-graduação.
As disciplinas voltadas para uma formação humanística, que pensam a tradição do conhecimento, serão reduzidas ou reformatadas para a questão específica do Jornalismo. Para os pesquisadores resistentes à proposta, a formação não gera um profissional completo, pois, sem a formação humanística, não há o entendimento para se orientar na mudança permanente do novo.
A professora Karina Woitovicz, que acompanhou a discussão, disse que as diretrizes de 2013 foram um avanço e que, assim, tivemos um reconhecimento de algumas especificidades do curso. A professora ainda conta sobre sua visão regional referente à educação:
Porém, o professor de Teorias e Epistemologia da Comunicação, Luiz Claudio Martino, apresenta uma visão diferente sobre a nova configuração, apontando que o Jornalismo ainda não apresenta um conjunto de conhecimentos próprios para se desvincular do campo da Comunicação: