Doenças causadas pelos resíduos afetam, principalmente, quem trabalha com coleta e separação
Funcionários da cooperativa de reciclagem Ecocidadão fazendo a separação do material. (Crédito: Priscila Michele)
As principais doenças causadas pelo lixo ocorrem através de vetores, como ratos e moscas. Esse contato se dá, de forma indireta, por meio da falta de estrutura que impede a contaminação e a transmissão, como é o caso de lixões a céu aberto. Esses não possuem nenhuma estrutura capaz de minimizar o impacto ao meio ambiente e à saúde da população. No entanto, os lixões não são a principal fonte de proliferação de doenças. A proliferação de micro-organismos residentes no lixo ocorre desde a coleta dos resíduos em residências, hospitais e demais locais.
Para o responsável do Setor de Divisão de Vigilância do Meio Ambiente, Celso Luis Rubio, as pessoas mais infectadas são aquelas que sobrevivem do lixo, que moram no entorno dos depósitos e trabalham com este material, sendo coletores, funcionários de aterros e cooperativas, e trabalhadores informais, como carrinheiros. Rubio explica as causas de infecção por acidentes no manejo dos resíduos e alerta sobre os cuidados que a população precisa ter com o descarte. Confira o áudio com a entrevista realizada pela EntreVerbos.
Além dos vetores transmissores das doenças, o lixo, quando exposto sem tratamento, e os depósitos inadequados causam impacto ambiental e podem acarretar outras doenças, que se estendem à população em geral. Um exemplo é o chorume, que pode contaminar lençóis freáticos e ocasionar males aos indivíduos que consomem essa água. Para Rubio, o descarte inadequado do lixo em terrenos baldios pode contribuir com a disseminação de doenças, já que os depósitos inadequados geram paradouros de água para formação do mosquito Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue e da febre amarela urbana.
As principais enfermidades ocasionadas por vetores e contato direto com o lixo são:
Tétano: doença grave causada por uma toxina produzida pela bactéria Clostridium tetani. Quando contamina os ferimentos, a bactéria produz a toxina, que age sobre terminais nervosos e induz a fortes contrações musculares. Essas contrações podem se tornar generalizadas e atingir o músculo diafragma, causando uma parada respiratória.
Hepatite A: doença infecciosa aguda, causada por um vírus, que provoca inflamação e necrose do fígado. O vírus é transmitido pela via fecal-oral, pela ingestão de água e alimentos contaminados ou, diretamente, de pessoa para outra.
Dermatite de contato: inflamação da pele provocada pelo contato direto com substâncias que causam reação alérgica ou inflamatória, como ácidos, sabonetes, detergentes, solventes, produtos vencidos ou estragados, adesivos, cosméticos e outras substâncias químicas.
Cólera: infecção intestinal aguda causada pela bactéria Vibrio cholerae, capaz de produzir uma toxina que causa diarreia. A transmissão ocorre pela ingestão de água ou alimentos contaminados.
Tracoma: conjuntivite que pode provocar a formação de cicatrizes na conjuntiva e na córnea, podendo levar à cegueira. A transmissão pode ocorrer pelo contato com os olhos das mãos, toalhas ou roupas utilizadas para limpar rosto e mãos.
Febre tifoide: doença infecciosa grave, causada pela bactéria Salmonella typhi. A doença provoca febre prolongada, alterações no funcionamento do intestino, aumento do fígado e do baço e confusão mental progressiva, podendo levar à morte. Sua transmissão ocorre através da ingestão de água ou alimentos contaminados com fezes humanas ou urina contendo a Salmonella typhi, além do contato direto (mão-boca) com fezes, urina, secreção respiratória, vômito ou pus proveniente de um indivíduo infectado.
Verminoses: Áscaris lumbricoides, Ancilostomo duodenale, Trichiuris trichiura, Taenia saginata, Taenia solium, ameba e giardia são alguns dos parasitas que podem habitar o intestino. Dependendo do tipo de parasita, pode provocar perda de apetite, emagrecimento, diarreia, anemia, desordem de cólon e irritação do reto e ânus. A transmissão pode ser dar pela ingestão de alimentos mal cozidos ou crus que não foram devidamente higienizados, água contaminada, contato direto com excremento humano ou animal.
De acordo com Rubio, muitas doenças podem ser tratadas com o tratamento correto do lixo e com a reeducação ambiental da população em separar corretamente o lixo. Manter em dia as vacinas obrigatórias e utilizar equipamentos de proteção individual auxiliam na prevenção. Ouça aqui na íntegra a resposta do responsável pelo Setor de Divisão de Vigilância do Meio Ambiente.