Projetos e plataformas digitais são utilizados como incentivo à leitura e contra analfabetismo funcional
Segundo o IBOPE, 26% da população consome ou já consumiu livros digitais, os e-books. (Credito: Alexandre Nascimento)
Uma pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro, em 2016, revelou que três em cada dez pessoas são classificadas como analfabetas funcionais. O analfabetismo funcional está relacionado a falta de compreensão e interpretação de textos, pois ler não é apenas ver as letras do alfabeto e reuní-las, mas interpretar o sentido e perceber o contexto. Embora o indivíduo seja alfabetizado, ele não entende o que lê.
A pedagoga formada pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Cinthia de Melo, explica que "Ler não é somente juntar as letras e formar palavras, mas também é conseguir entender os diferentes gêneros textuais, entender tudo o que acontece à nossa volta, é a tal leitura do mundo”. A falta de compreensão do que se leu parece afastaa ainda mais as pessoas dos livros.
De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro e realizada pelo Ibope em todo país, em 2016, falta incentivo por parte dos educadores para que se leia, somado a falta de incentivo em casa. As principais razões elencadas são falta de tempo, devido à correria do dia a dia, e preferência por outras atividades, em detrimento à leitura.
Ainda conforme a pesquisa, em sete anos (de 2007 a 2015) aumentou em 1% o número de leitores no Brasil, totalizando 56% de pessoas que possuem o hábito de ler. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), o Brasil possui uma média de uma biblioteca pública para cada 30 mil habitantes, enquanto, por exemplo, nos Estados Unidos, a média é de uma para 19 mil, e na República Tcheca, de uma para cada 1.970 habitantes.
Incentivo à leitura em Curitiba vem de projetos sociais e dos professores(ras). (Credito: Alexandre Nascimento)
Quando se fala em leitura, especialmente na sociedade brasileira, há um grande índice de resistência. Ciente disso, a universitária Sirlene Araújo, mãe de uma menina de 10 anos, começou a incentiva-la logo aos 6 anos. “É muito importante educar o hábito da leitura quando os filhos ainda são pequenos. É daí que se adquire o gosto em ler, conhecer histórias, ampliar o conhecimento e visão de mundo deles.” comenta a mãe. Sirlene conta que lia para a menina enquanto ela ainda era pequena. Apesar de ela não entender as histórias, se encantava com as ilustrações dos livros e dos gibis. A última leitura foi uma obra de Machado de Assis.
A universitária também ressalta o papel dos pais na origem do incentivo à leitura. “Acho que se deve começar incentivando com leituras fáceis. O filho não vai ler um livro de um assunto que ele não goste. Então, se ele curte super heróis, por exemplo, lhe dê livros de super heróis. E não adianta só dar. Os pais têm que participar, perguntar ao filho sobre a história, pedir que o filho lhe conte e se possível ler com ele", aconselha Sirlene.
Outra opção acerca das estratégias de incentivo está no mundo digital. De acordo com pesquisa realizada pelo Ibope, 26% da população consome ou já consumiu livros digitais, os famosos e-books. O formato tem atraído a atenção de muitas pessoas, principalmente, jovens e adolescentes, devido sua praticidade de leitura.
Valderi Felix, que leitor tanto de livros físicos quanto de plataformas digitais, menciona que “a leitura digital é perfeita para momentos, em que você está transitando pela cidade, seja em ônibus, carro, carona ou parque. A capacidade de carregar vários livros em algo tão pequeno é o que mais atrai e facilita”. Para Felix, outro ponto que chama sua atenção é o fato de encontrar livros raros ou esgotados na versão digital, pois os pdfs são práticos e rápidos.
Leitura e construção do conhecimento
Em seu livro A Importância do Ato de Ler, de 1988, Paulo Freire diz que “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Segundo o autor, ninguém começa a ler a palavra, pois a primeira coisa que temos à nossa disposição para ler é o mundo, ao trazer experiências de vida. Ler é um processo ligado à compreensão do contexto histórico social do mundo em que se vive.
O leitor é um intérprete, que confronta sua própria realidade, a partir de um esforço produtivo de compreensão, percebendo as coisas que nos cercam sob perspectivas diferentes. Desse modo, a leitura se configura como um poderoso instrumento na construção do conhecimento, possibilita o raciocínio lógico, oferecendo promovendo o pensamento crítico. Ler é ser questionado pelo mundo e por si mesmo, o que gera uma ação crítica do sujeito no mundo, é uma percepção, que envolve o cognitivo, afetivo, argumentativo e simbólico.
A necessidade do conhecimento prévio de mundo para a leitura demonstra o caráter subjetivo que essa atividade assume. O hábito de ler traz ainda diversos benefícios, como o desenvolvimento crítico, visando a formação de um cidadão participativo, capaz de atuar na sociedade, considerando os valores éticos, morais e sociais.
Incentivo a leitura em Curitiba
Em 2010, o projeto Curitiba Lê foi criado pela Fundação Cultural de Curitiba (FCC) com o objetivo de aumentar os índices de leitura entre crianças, jovens e adultos. Atualmente, a iniciativa conta com 15 casas de leituras, além do famoso Bondinho rua XV de Novembro, no Centro da Cidade. O projeto funciona de forma idêntica à uma biblioteca, com consulta aos acervos e empréstimos.
Mapa de localização das Casas da Leitura, leitura em Curitiba. (Crédito: Alexandre Nascimento)
O usuário interessado deve apresentar documento de identificação oficial com foto e informar seu endereço. As Casas de Leitura do projeto Curitiba Lê funcionam também como centro de estudos e pesquisas, e recebem eventos culturais, ciclos de leitura, oficinas literárias e contação de histórias.
As rodas de leituras realizadas nesses encontros se dão a partir da leitura prévia de determinados textos, gerando análises e discussões. De acordo com a Fundação Cultural de Curitiba, foram realizadas, no ano de 2016, 1.682 rodas de leituras, com 35.049 participantes, 1.653 contação de histórias, com 34.814 participantes e 31.276 livros emprestados.