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Por Juliana Veiga e Millena Prado

Novas regras alteram a publicidade eleitoral em 2018

Candidatos às eleições poderão utilizar as redes sociais para propaganda partidária

A partir de 16 de agosto, os usuários poderão ser atingidos por propaganda partidária nas redes sociais (Créditos: Pixabay)

Neste ano, o eleitor brasileiro será convocado a ir às urnas definir os novos ocupantes para os cargos de Presidente, Governador, Senador, Deputados Federais e Estaduais. A largada da corrida eleitoral será dada no dia 16 de agosto, quando os candidatos podem começar as campanhas. Já o horário eleitoral obrigatório na televisão e rádio, será exibido a partir do dia 31 do mesmo mês.​

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovou em dezembro do ano passado resoluções que regem o pleito de 2018, as regras vão desde limitações de gastos até proibição de publicidade via telemarketing. Apesar de algumas restrições, o

os candidatos ganharam mais um meio para convencer seu eleitorado: as redes sociais.

O Professor de Ciências Políticas, e doutor em Sociologia pela (UFPR) Doacir Quadros, faz uma comparação provocativa quando se refere ao uso das plataformas pelos atuais governantes, “O problema dos políticos nas redes é que eles estão com uma Ferrari na mão mas dirigem como se fosse um fusca”. No Brasil, é comum que a rede seja utilizada em época de campanha, e esquecida após a posse, o que deixa a desejar no quesito credibilidade dos mesmos.

Após negociações, o Tribunal autorizou as publicações impulsionadas redes sociais como Facebook, Instagram, Twitter entre outras. Os candidatos passam a ter uma ferramenta muito poderosa para sua promoção. Na prática, significa que o concorrente pode investir nas plataformas para que seu conteúdo atinja um número abrangente de pessoas e o público pode ser específico.

As ferramentas como o Facebook trazem a possibilidade de segmentação do perfil alvo. A rede mapeia pessoas que possivelmente se envolvam com as demandas propostas e faz uma campanha sob medida para aquele público. Fica mais fácil para os pretendentes e seus gestores de marketing decidirem quem vai ver a publicação, tornando assim o investimento mais certeiro.

Regulamentações e proibições sancionadas no final de 2017. (Créditos: Juliana Veiga)

Este espaço na internet dedicado aos políticos deve seguir algumas regras. A publicação patrocinada deve ser nominal a partidos, coligações ou candidatos. A postagem deve conter dados de quem a fez, para que o eleitor saiba que está sendo atingido por um material impulsionado de cunho eleitoral. Deve haver também a opção de bloquear conteúdo partidário, o usuário decide se continua vendo ou não este tipo de postagem. Os candidatos devem disponibilizar um espaço na plataforma para reclamações ou sugestões.

A resolução aprovada também prevê restrições, tais como fazer campanha negativa desconstruindo a imagem do adversário e haverá, assim como em outros meios, o direito de resposta das partes ofendidas. O doutor em Sociologia aponta que a possibilidade de usar as redes sociais favorece muito os candidatos, sobretudo em suas estratégias de campanha, porém esta mudança não decidirá o resultado nas urnas mas continua sendo uma ferramenta poderosa.

Doacir Quadros é Doutor em Sociologia e atua como professor e pesquisador na área eleitoral. (Créditos: Juliana Veiga)

A fiscalização continuará sendo feita por nós eleitores. Postagens difamatórias, estratégias duvidosas, e notícias falsas, devem ser denunciadas ao Ministério Público Eleitoral (MPE) e nos próprios canais de comunicação disponibilizados pelos candidatos.

A internet é extremamente importante no desenvolvimento social alterando o fluxo de informações, onde anteriormente só recebíamos conteúdo dos grandes veículos como a TV e rádio, agora produzimos modos de nos expressarmos nas redes sociais. O senso do IBGE em 2016 apontou que 64,7% da população acima de 10 anos tem acesso à internet em nosso país.

Estoure sua bolha!

A web é um verdadeiro portal para o mundo, nela encontramos desde receitas de bolo até tutoriais de como fabricar bombas caseiras. Mas será que realmente sabemos em que mar de informações estamos navegando? As redes sociais são moldadas a partir de escolhas e direcionamentos que fornecemos, os algoritmos ajustam o que aparece nas timelines a partir das nossas interações. “Curtir ou não uma publicação determina que conteúdo iremos ver ou deixar de ver” de acordo com Gabriela Zago, doutora em Comunicação e pesquisadora na área de Cibercultura.

Optar por reagir a determinado assunto ao invés de outro, faz com que sua rede social possa mapear seus interesses e te mostrar cada vez mais posts semelhantes. Os algoritmos priorizam assuntos de acordo com a relevância com a qual interagimos.

Quanto mais interação, mais o assunto aparece, criando assim uma espécie de bolha ideológica. “Alguém que defende determinada posição política tende a reforçar seus posicionamentos em uma bolha e acha que todo mundo pensa igual porque só vê postagens com a mesma opinião, sem perceber que há algoritmos decidindo o que exibir”, afirma Gabriela Zago.

Esta lógica pode se tornar um risco nas próximas eleições com a publicidade eleitoral regulamentada. Segundo Zago, da mesma forma que a medida ajudará na disseminação de informações, se não houver fiscalização, ocorrerá maior utilização de contas programadas para publicação de mensagens - verdadeiras ou não - e os bots (robôs preparados para postar e repostar conteúdos inúmeras vezes, criando a falsa ideia de consenso).

Os bots que simulam ações humanas estiveram presentes nas Eleições de 2016 em que Trump foi eleito. Perfis falsos representaram 15% das contas que opinaram contra e a favor de Donald Trump e Hillary Clinton no twitter, somando mais de 3,8 milhões de tuítes. Esta pesquisa foi realizada por cientistas da computação da Universidade Sul da Califórnia, em matéria publicada no G1.

O Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio) lançou em março deste ano o PegaBot. Nesta plataforma é possível verificar a probabilidade do perfil ser um Bot, quanto maior a nota, maior a chance se estar lidando com um robô. Por enquanto esta verificação é possível apenas com contas no Twitter, mas a ideia é que em breve seja usado com outras redes sociais.

Zago diz que conhecimento é essencial para lidar com tamanha parcialidade e as bolhas na internet. Assim, saber que existem algoritimos, bolhas, bots, e que eles interferem no conteúdo que visualizamos, é imprescindível para criar filtros no uso das redes.

Redes sociais são o espaço ideal para debate político?

A resposta é não. “O Facebook foi pensado para ligar pessoas com finalidade comercial, para vender coisas [...]. A rede não é um espaço público para debates de temas públicos", afirma o doutor em Ciências Políticas (IUPERJ) Emerson Cervi, apostando que a disputa eleitoral deve acontecer nas ruas apesar de as redes serem importantes para a disseminação de informações, comenta o especialista.

Cervi estuda a área de Comunicação Política e as mudanças nas campanhas de 2018. (Créditos: Juliana Veiga)

Para ele, não há uma relação de privilégio quanto ao candidato estar mais conectado nas plataformas. Além disso, é inviável considerar a presença de candidatos mais novos e “nativos digitais”. Cervi afirma que existem segmentos no partido que atuam na coordenação das mídias, e que darão o direcionamento adequado às publicações profissionais dos candidatos.

Para o doutor em Ciência Política, o que definirá o uso das redes sociais nas campanhas são os nichos que o candidato quer atingir. Por exemplo, para a eleição proporcional, o uso das plataformas será de forte auxílio, já que seu eleitorado é direcionado e específico. Porém, nas eleições majoritárias, em que para ser eleito deve haver a maioria dos votos favoráveis, o uso será complementar, pois nem todos possuem acesso a internet.

Emerson exemplifica qual o possível uso das redes pelos concorrentes aos cargos. Assim o alcance dos posts dependerá do público-alvo e também sofre forte influência a partir do sistema eleitoral brasileiro, dividido em eleições majoritárias e proporcionais conforme o gráfico abaixo:

Diferenças entre eleições majoritárias e proporcionais. (Créditos: Juliana Veiga)

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