Os profissionais das rádios falam sobre a sensação de pertencimento ao narrarem eventos mundiais
Em épocas de jogos da seleção, o rádio era um companheiro inseparável dos ouvintes. (Crédito: Pixabay)
Não é de hoje que o rádio esportivo de Curitiba e a Seleção Brasileira de Futebol caminham lado a lado. Ao longo do tempo, muitos profissionais da capital paranaense empunharam microfones em diferentes lugares do globo. Foram amistosos, Copas do Mundo, América, das Confederações e outros torneios internacionais. E nas épocas de jogos da seleção, independentemente do clube do coração, o ouvinte pintava o rádio de verde e amarelo e vibrava ainda mais a cada grito de gol.
Assim foi dado o início às transmissões esportivas em Copas do Mundo, nas quais estiveram presentes as emissoras de rádio de Curitiba. Em 1950, pelas ondas da Rádio Clube Paranaense, a PR-B2, Pedro Stenghel Guimarães transmitiu duas partidas da competição, Estados Unidos e Espanha, e Suécia e Paraguai.
Em parceria com a Rádio Gaúcha, em 1974, também pela PRB-2, o radialista Airton Cordeiro foi o primeiro Curitibano a transmitir uma Copa, no exterior, por uma rádio paranaense. “O Airton Cordeiro esteve presente nessa Copa. Não se sabe se houve algum apoio financeiro da própria PRB-2. A emissora não transmitiu a Copa do Mundo de 1978, na Argentina. De fato, as transmissões esportivas na Rádio Clube passaram a ser rotineiras após a chegada de Lombardi Junior e Capitão Hidalgo para compor a equipe de esportes”, comenta Ayrton Baptista Junior, produtor de Esportes da rádio CBN Curitiba.
Assim como a prática do futebol, a história do rádio é marcada por parcerias. Em 1º de Dezembro de 1978, Lombardi Junior (Himer Macurim Lombardi) e Capitão Hidalgo (José Hidalgo Neto), levaram a “Equipe Positiva” da Rádio Universo para a Rádio Clube. Na emissora, fizeram uma parceria a lá Bebeto e Romário. Além das marcantes coberturas do futebol local, a equipe se notabilizou pelas transmissões de grandes partidas internacionais. A dupla Lombardi Junior e Capitão Hidalgo separou-se em 1985. A convite da Cidade AM 670 - Hoje CBN AM Curitiba, Hidalgo aceitou o convite para comandar a equipe esportiva da rádio.
Na Copa do Mundo de 1986, no México, em parceria com outras emissoras do Estado, a Rádio Cidade criou o slogan “Sotaque Paranaense na Copa”. Com profissionais assumindo postos em diferentes cidades, a estação disseminou o sotaque do estado pelo país sede da Copa e justificou a campanha. No Mundial, também esteve presente a “Equipe Positiva” da Rádio Clube, com Lombardi Junior. As duas rádios também estiverem presentes na Copa de 1990, na Itália. Ouça aqui Ayrton Batista Junior contando sobre o "Sotaque Paranaense na Copa".
Com dificuldades e em homenagem a Lombardi, a “Equipe Positiva” partiu para sua última transmissão de uma Copa do Mundo, em 1994, nos Estados Unidos. Já em 1998, a emissora transmitiu o Mundial integrando a Rede Católica de Rádios, a exemplo da Rádio Cidade, que completou o time da Rede Record.
Logos oficias das Copas do Mundo e a presença do rádio esportivo curitibano ao longo da história. (Crédito: Edgar Araujo)
Buscando a afirmação como uma grande rádio no esporte, a rádio Banda B (AM 550) marcou um golaço transmitindo os Mundiais de 2006, na Alemanha, e 2010, na África. Driblando os altos custos dos direitos de transmissões, a Banda B foi a última emissora de Curitiba a enviar uma equipe para transmitir o evento mundial.
Segundo Capitão Hidalgo, em 1986, a Gazeta de São Paulo propôs uma parceria nos moldes da que foi feita com a Clube Paranaense em 1982. Luis Roberto de Mucio, hoje na TV Globo, seria o narrador principal da Gazeta. A proposta não foi aceita para que não se descaracterizasse a ideia do “sotaque paranaense”
Em 1986, pela Rádio Clube, o apresentador Léo Pereira levou o “Palpitel” para o México. Neste programa, os ouvintes telefonavam e davam os palpites sobre os jogos. Durante a Copa, brasileiros iam ao hotel que hospedava a rádio em Guadalajara e conversavam, no ar, com parentes que haviam ficado no Brasil. O “Palpitel”, tradição dos domingos, era veiculado das 11h30 às 13h30 e foi diário durante Copa. Em 1990, Leo Pereira e Ubiratan Lustosa apresentaram “O Outro Lado da Copa”, programa de variedades, com música e conversas para além do universo do futebol.
Outro ícone, natural de Curitiba, é Willy Fritz Gonser, que transmitiu 11 Copas do Mundo. Esteve presente em todas as edições, de 1962 até 2006, só não participou em 1966. Como narrador, era dono de uma técnica extremamente apurada. Pela rádio Itatiaia de Belo Horizonte, ganhou o coração da torcida do Atlético Mineiro, o que lhe rendeu o apelido de “A voz do galo”. O locutor ainda teve passagens pelas rádios Marumby (PR), Gaúcha (RS), Farroupilha (RS), Continental (RJ), Nacional (RJ), Jovem Pan (SP) e Bandeirantes (SP). Encerrou sua carreira em 2015, como comentarista na Rádio Inconfidência (MG). Em 2017, com problemas pulmonares, aos 80 anos, o jornalista faleceu em Belo Horizonte. Calava-se ali um dos maiores e mais marcantes gritos de gol que o Brasil já ouviu.
Além da transmissão
Não somente de emoções, detalhes e informações é feita uma cobertura esportiva, mas também de momentos de descontração que muitas vezes não planejados. A transmissão de uma partida de futebol funciona como uma orquestra. É preciso muita harmonia e entrosamento para o equilíbrio dos instrumentos e tons, e quando isso não acontece, acabam surgindo histórias engraçadas e fatos inusitados que entram para o folclore do rádio esportivo.
José Hidalgo Neto, também conhecido como Capitão Hidalgo, ganhou esse apelido porque foi jogador e capitão do time do Coritiba na década de 70. Depois de pendurar as chuteiras, Hidalgo entrou para o time dos radialistas e relembra uma história divertida que aconteceu em uma transmissão juntamente com o locutor Sergio Silva.
Capitão Hidalgo ganhou esse apelido porque foi jogador e capitão do time do Coritiba. (Crédito: Mariana Becker)
Os ouvintes que estão em frente ao rádio imaginando o jogo segundo o que o narrador está descrevendo por vezes não sabem como são os bastidores. O ex-repórter Edu Brasil, hoje é comentarista da Rádio Banda B e conta sobre um imprevisto técnico que aconteceu nas eliminatórias da Copa de 1990. A situação, hoje levada com o humor, demonstrou que é necessário estar preparado para tudo.
Edu Brasil relata imprevistos técnicos na Copa de 90. (Crédito: Mariana Becker)
Trocando figurinhas
Muitos amantes do esporte não esperam pelo maior campeonato de futebol do mundo apenas pelo espetáculo, mas também para dar início a competição de quem completará primeiro o álbum de figurinhas da Copa. O sentimento de achar um cromo raro ou faltante para o término da coleção pode ser comparado ao grande momento do futebol, o gol.
O álbum de figurinhas da Copa é coisa séria para muita gente, e essa febre não é de hoje, e nem só considerada coisa de criança. Esse entretenimento já existe há mais de 45 anos, sendo colecionado por pessoas de diversas faixas etárias.
Jorge Luiz Bostelmann de Oliveira, 63 anos, coleciona figurinhas desde 1962, época em que existiam somente álbuns da Seleção Brasileira. “Minha mãe me estimulava muito. Além de ser um hobby saudável, o álbum também possui uma função pedagógica muito importante, pois incentiva as crianças a ter uma melhor noção dos números, e também abre espaço para maior interesse pela geografia e pela cultura dos países dos quais os jogadores nasceram”, conta.
Gustavo Henrique Krainski se diverte ajudando os colecionadores a completar o álbum de figurinhas (Crédito: Mariana Becker)
Além daqueles que fazem os seus álbuns para coleções particulares, existe quem encare a prática como profissão. Gustavo Henrique Krainski, 21 anos, trabalha como vendedor numa loja que vende itens para colecionadores, e estima ter em média 35 mil figurinhas, o jovem disse o quão é divertido ajudar as pessoas a chegarem no objetivo. “É como se eu tivesse fechado esse álbum também”. Em Curitiba, existem vários lugares em que as pessoas trocam figurinhas. Alguns pontos, já tradicionais de outras Copas, são bem conhecidos.
Mapa dos locais de encontros para trocas de figurinhas em Curitiba (Crédito: Mariana Becker)