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Por Beatriz Vasconcelos e Karin de Paula

Combate à obesidade infantil começa em casa

Dados da OMS apontam o sobrepeso como um dos maiores problemas de saúde pública no mundo

Alimentos ricos em açúcar, gordura e sódio são vilões na alimentação infantil. (Crédito: Karin de Paula)

A obesidade infantil é uma doença que pode ter fatores genéticos, psicológicos ou comportamentais. Nesse contexto, a tecnologia é um adicional contra a saúde, pois as crianças podem deixar de praticar atividades físicas para ficar na comodidade dos seus smartphones e tablets. Especialistas explicam os maus exemplos interferem bastante e podem vir da alimentação dos pais, da falta de exercícios, e, em alguns casos, até da falta de incentivo dos professores de algumas escolas.

Com o aumento na taxa de obesidade infantil agravam-se os problemas relacionados ao bullying. Para Denize Lima, professora de Educação Física em uma escola pública, “brincadeiras, apelidos e observações maldosas surgem eventualmente e exigem uma postura firme e imediata do professor ou dos pais em coibir essa prática. É imprescindível a conscientização das crianças sobre o respeito aos colegas e às diferenças entre si”. A prática pode influenciar na baixa autoestima, problemas psicológicos e a compulsão por alimentos.

Segundo a nutricionista Camila Lopes, hoje em dia, muitos pais não acompanham as crianças durante sua rotina. Isso acaba desencadeando comportamentos ligados à má alimentação e ao sedentarismo, frutos da falta de orientação e cuidado no preparo dos alimentos dos filhos. A obesidade, quando se manifesta na infância e persiste na adolescência, e é não tratada, provavelmente se arrastará até a idade adulta.

Alexandre Rosa conta que aos 5 anos, a filha, Laura Rosa, já sofria com o sobrepeso devido a excessos na alimentação e falta de atividade física. Após conversar com a pediatra, a família recebeu diversas informações sobre obesidade infantil e o sedentarismo, como, por exemplo, quais as doenças associadas, além de causas e consequências para a saúde. “Percebemos o momento de procurar um especialista quando já estava passando do ‘bonitinho’. Precisávamos de uma orientação sobre a alimentação da Laura”, diz Alexandre.

A obesidade infantil pode desencadear diversas doenças (Crédito: Karin de Paula)

Alexandre, a esposa, Aline, e até a irmãzinha mais nova, Isabela, se uniram para ajudar Laura na mudança de hábitos. E alimentação de todos mudou. Nada de lanches, refrigerantes ou exageros na hora de comer. Alexandre explica como a família contribuiu para motivar a filha com a alimentação saudável.

O pai de Laura comenta ainda que tiveram bastante dificuldade em consumir frutas, verduras e saladas, pois não tinham o hábito de ingerir esses alimentos. Entretanto, com o passar dos dias, foram se adaptando à nova forma de vida. Atualmente, as meninas e, principalmente, Laura, praticam aula de dança, andam de bicicleta, e, acima de tudo, têm uma dieta balanceada. “Elas têm bastante energia, então, elas precisam gastar”, conclui Alexandre.

Diversas outras famílias também sofrem com este problema no Brasil, como mostra o documentário Muito além do peso, e nem todos conseguem adotar um novo estilo de vida e adaptar-se como a família de Alexandre. Uma das grandes causas que levam à obesidade infantil é o sedentarismo, que, relacionado à má alimentação, pode desencadear várias complicações metabólicas.

Camila Lopes afirma que a obesidade infantil tem diversas causas, podendo ser por maus hábitos e até genética. (Credito: Beatriz Vasconcelos)

Mudanças de hábito ajudam a prevenir a obesidade

O século XX, trouxe inúmeros avanços tecnológicos que fizeram com que as crianças diminuíssem a quantidade de energia gasta com brincadeiras como pega-pega, pular corda, pique esconde ou até mesmo andar de bicicleta. O fato de as crianças estarem cada vez mais conectadas, ressalta o papel da Educação Física escolar ,no sentido de motivar as crianças para a atividade física. Denize Lima, que é professora de Educação Física, alerta que “com a diminuição do esforço trazido por entretenimentos como o videogame, computadores e tablets, a atividade física na escola às vezes caracteriza-se como o único momento do dia em que a criança irá se movimentar e ter um gasto significativo de energia”, afirma Lima.

As brincadeiras e a atividade física são fundamentais para o desenvolvimentos das crianças. (Crédito: Beatriz Vasconcelos)

Uma pesquisa realizada pelo Imperial College de Londres e pela Organização Mundial da Saúde apontou que 9,4% das meninas e 12,7% dos meninos brasileiros estavam obesos em 2017. Segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), a perspectiva é de que aproximadamente 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso e mais de 700 milhões atinjam a obesidade até 2025.

Nesse sentido, é urgente a mudança de hábitos para evitar que um número alarmante de crianças com sobrepeso e obesidade cresça no mundo. O excesso de peso causado pela falta de atividade física somada a uma má alimentação traz consigo doenças que antes eram associadas apenas aos idosos. No cenário atual, doenças crônicas como hipertensão e diabetes passaram a fazer parte também da rotina de crianças e adolescentes.

Para combater o que tem se tornado uma epidemia mundial, a Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou diretrizes que incluem aconselhamento e dieta, avaliação dos hábitos alimentares e medições de peso e altura, buscando assim promover uma dieta saudável e a prática de atividades físicas entre os adultos. Almejando a prevenção da obesidade infantil, o estímulo de atividades físicas espontâneas deve motivar a criança a manter-se ativa. Esse hábito deve ser incorporado preferencialmente por toda a família, ocasionando mudança de comportamentos como ficar inerte e aumentando o gasto de energia com atitudes como descer escadas do prédio onde mora, caminhar no quarteirão, jogar bola ou pular corda.

O consumo diário de alimentos mais saudáveis e a prática de exercícios físicos regulares evitam, inúmeras doenças crônicas causadas pela obesidade e se consolidam como grandes aliados na conquista de uma vida mais saudável, com qualidade e bem-estar. Além disso, entre os benefícios da alimentação equilibrada encontra-se também sua contribuição na otimização do estudo entre crianças e adolescentes. Confira neste link quais os alimentos que influenciam o desempenho na hora de estudar.

A influência da propaganda na compra de alimentos

Segundo a OMS, as propagandas vêm influenciando a escolha das crianças na compra de alimentos, o que acarreta o aumento do consumo de produtos processados ricos em açúcar, gordura e sódio. Em 2010, a OMS sugeriu a diminuição da exposição de crianças à propaganda de alimentos com essas características.

O Ministério da Saúde, em 2014, publicou um Guia Alimentar e reconheceu a influência da propaganda de alimentos como um obstáculo para uma alimentação saudável. De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição (PNSN) de 2011, calcula-se que, no Brasil, cerca de 20% das crianças apresentam algum grau de excesso de peso.

O instituto Datafolha fez uma pesquisa em 2010, a pedido do Instituto Alana para saber a opinião dos pais de crianças até 11 anos sobre o impacto da publicidade de cadeias de fast-foods sobre seus filhos. Os resultados da análise revelaram que 79% concorda que a publicidade leva as crianças a pedirem aos pais os produtos anunciados. Já 76% acredita que a publicidade dificulta a educação alimentar provida pelos pais no ambiente familiar. Nesse sentido, torna-se evidente que os anúncios presentes nas mídias focam em um público sem poder aquisitivo mesmo com a desaprovação daqueles que, de fato, possuem o poder de compra.

Segundo a nutricionista, Camila Lopes “O contato dos pais com as crianças em relação aos alimentos que irão consumir muitas vezes não é diário, pois trabalham o dia todo e não possuem tempo para preparar as refeições”. Por outro lado, a publicidade está continuamente presente na tela da TV em que as crianças se entretém. O documentário Criança a alma do negócio discute a influência da mídia sobre o público infantil.

Edição: Larissa Oliveira.

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