Atividades físicas estimulam o sistema motor, a diminuição do sedentarismo e a interação social
Os esportes são aliados no desenvolvimento de crianças com o transtorno (Crédito: Pixels)
Atividades físicas trazem benefícios para todos e todas, ainda mais quando incentivadas desde cedo, pois na auxiliam na concentração e na memória dos pequenos. Para uma criança com autismo, estas atividades físicas funcionam como um estímulo ao cérebro, dando suporte para o desenvolvimento da parte motora, física e emocional, e, também, como uma forma de inclusão na social.
Segundo a psicóloga Daniela Brites, o caráter terapêutico atua na melhoria da autoconfiança, do equilíbrio e da interação com outras pessoas - um dos pontos mais afetados pelo transtorno - além de promover a diminuição da sensibilidade sensorial, que em alguns casos é extremamente alta. A prática de exercícios por crianças com autismo quebra a repetição de movimentos e proporciona uma gratificação parecida com a prática da estereotipia.
Para a fisioterapeuta Grazielle Gobetti, que trabalha em uma clínica especializada em terapias associadas ao desenvolvimento de crianças com diversos transtornos, cerca de 80% das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem algum progresso no desenvolvimento. “É feita uma avaliação detalhada e em seguida se inicia a intervenção. Geralmente, os pacientes apresentam uma falta de força muscular, dificuldades em segurar objetos, subir ou descer de escadas, alterações no equilíbrio e alterações sensoriais” afirma a Gobetti.
Com a intervenção profissional adequada, os efeitos que são característicos do autismo são aliviados. “O papel do fisioterapeuta é desenvolver as habilidades motoras não adquiridas e/ou habilidades motoras que apresentam alteração, de forma a ensinar essa criança o padrão de movimento correto ou adequado com a sua capacidade. Além disso, a atividade física pode contribuir para a diminuição do sedentarismo e o isolamento social, estimulando a crianças a participar das atividades em grupo” conclui Grazielle.
Nesse contexto, é importante identificar com quais esportes a criança mais se adapta e praticar sempre com acompanhamento e orientação de profissionais da área. Além disso, brincadeiras comuns, como pega-pega ou amarelinha, também ajudam a melhorar a interação social, pois ela vai ter que lidar com as suas emoções, sendo inspirada nas reações das outras crianças.
De acordo com a professora Lucyane Correia, especialista no tema, as crianças com autismo são muito visuais. O ideal, quando alguém for se comunicar com uma criança com esse transtorno, é usar bastante gestos, exemplos físicos e ser o mais objetivo possível na hora de explicar as regras e os movimentos do esporte, sempre fazendo contato visual com a criança. O profissional precisa saber acompanhar seu desenvolvimento de uma forma que o estimule de alguma forma dinâmica, a fim de conseguir melhoras. De forma geral, as modalidades mais indicadas trazem ganhos específicos para o condicionamento físico e cognitivo dessas crianças. Algumas delas são: natação, futebol, basquete, hipismo e esgrima.
Atividades mais indicadas para crianças autistas. (Crédito: Gabriel Mafra e Thalita Welke)
Preconceito e inclusão
Segundo o site Guia Infantil, ao receber o diagnóstico do filho, alguns pais sentem impotência por não saber a quem recorrer, o que fazer quando chegar a hora de matricular em uma escola, como será a recepção dos colegas e professores, além de receio com gastos adicionais, com remédios, suplementos ou terapias. Porém, um estudo realizado por seis universidades norte americanas, em parceria com o Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, mostra que as crianças têm maior desenvolvimento em famílias que acolhem o transtorno.
Segundo a psicóloga Marina Almeida, do Instituto Inclusão Brasil, o “nosso maior desafio ainda é o preconceito e a falta de informações das pessoas. A inclusão é uma luta diária, é mudança de atitude, é flexibilidade, é capacidade de empatia, solidariedade e respeito ao próximo”.
Em 2017, a Política Nacional de Proteção dos Direitos das Pessoas com Transtorno do Espectro Autista apresentou um projeto para garantir os mesmos direitos de Pessoas Com Deficiência para portadores do TEA. O projeto foi sancionado como a lei nº 12.764, pela ex-presidente Dilma Rousseff.
A lei garante direitos básicos em órgãos federais, estaduais e municipais, tanto na saúde, quanto na educação. Quando o assunto é inclusão nas escolas, a criança com TEA tem os mesmos direitos que uma criança sem o transtorno. Caso seja necessário, o professor, ou os pais, pode pedir um auxiliar para acompanhar a criança. A lei se aplica desde a Educação Infantil até o Ensino Superior. A escola que negar a matrícula da criança com autismo está sujeita à uma multa que varia de 3 a 20 salários mínimos, podendo ser aplicada ao diretor. A reincidência pode originar um processo administrativo.
O autismo
O Transtorno do Espectro Autista, ou autismo, segundo o Manual de Diagnóstico e Estatística dos Transtornos Mentais (DSM-5), é uma síndrome comportamental que afeta a comunicação, interação social e o comportamento de crianças. Os primeiros relatos do transtorno foram registrados em 1943, nos EUA, por um psiquiatra austríaco, chamado Leo Kanner. A ciência reconhece três fatores responsáveis pelo transtorno: o genético, o neurológico e o ambiental.
Segundo o Instituto Nacional de Saúde do Reino Unido (NICE), algumas outras variáveis são associadas ao TEA, como, por exemplo, ter um irmão o transtorno, má formação congênita, idade gestacional menor que 35 semanas, uso de ácido valpróico (medicamento para o tratamento de crises convulsivas) e desordens cromossômicas.
De acordo com Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 70 milhões de pessoas no mundo tem o transtorno. Com intuito de conscientizar a população e combater o preconceito contra pessoas com esse transtorno, a ONU criou, em 2007, o Dia Mundial do Autismo (dia 02 de abril). Produções culturais e cinematográficas também tem esse propósito. Um exemplo é o filme Extremely Loud & Incredibly Close (em português, Tão forte e tão perto), de 2011, que mostra a vida de uma criança com autismo após perder seu pai no atentado de 11 de setembro. A cartilha abaixo, elaborada por Ziraldo, também traz mais informações sobre o autismo: