Instituições de ensino promovem atividades envolvendo literatura e produtos culturais, estimulando jovens a imergir no mundo literário
Projetos acadêmicos instigam alunos a lerem diferentes tipos de livros, incluindo os clássicos. (Crédito: Reprodução)
De acordo com a pesquisa Retratos da leitura no Brasil, realizada em 2015, pelo Instituto Pró-Livro, 56% dos 104,7 milhões de brasileiros entrevistados podem ser considerados leitores. A pesquisa caracteriza como leitores aqueles que leram, nos últimos três meses, um livro ou mais. A maioria da população de leitores tem de 5 a 24 anos e 7% recebeu influências dos professores na construção do gosto pela leitura.
Monique Losina, mestra em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), e membra da equipe multidisciplinar do Serviço Social da Indústria do Paraná (SESI-PR) acredita que este número está associado à forma como os professores incentivam a prática, em sala de aula. “Quando eu era aluna, o que me incentiva era ver que meu professor era bem apaixonado pelos [livros] que ele trazia. Eu via que meus colegas também eram incentivados", relembra.
Além disso, Losina diz que este incentivo é fundamental e uma maneira de criar uma ponte entre o leitor e a obra que está sendo ou será lida. Este vínculo é estimulado, por exemplo, pela professora Flávia Bespalhok, nas disciplinas de rádio do curso de Tecnologia em Comunicação Institucional da Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio de radionovelas.
O trabalho permite tanto a criação de roteiros originais, quanto a adaptação de obras literárias, a critério dos estudantes. Para Bespalhok, uma das consequências positivas que a atividade traz é o incentivo à leitura. “É comum, quando ouvimos ou assistimos uma adaptação, que se tenha curiosidade de ler a obra original”, afirma.
O incentivo também pode partir dos próprios alunos da equipe, como no caso do grupo de Lucas Barreira, que sugeriu a realização de uma radionovela baseada no livro Caixa de Pássaro, de Josh Malerman, o que estimulou outros colegas a lerem o livro. Ouça aqui a adaptação realizada por eles.
Em algumas instituições de ensino, porém, o incentivo à leitura não fica restrito apenas ao corpo docente e aos trabalhos em sala de aula. Existem projetos acadêmicos que também instigam os alunos a lerem diferentes tipos de livros, incluindo os clássicos, e a imergir no mundo literário. O projeto Olimpíada de Literatura dos colégios SESI-PR, organizado por uma equipe multidisciplinar, acontece desde 2013, por meio da iniciativa de Denis Martins, antigo coordenador da equipe.
O projeto funciona como uma competição entre equipes e gira em torno de desafios, norteados pelos chamados fios culturais, que são duas obras literárias (normalmente clássicas), além de músicas, filmes, obras de arte e textos teóricos da Filosofia ou Sociologia. A equipe que vence, ganha uma viagem à São Paulo, onde visitam museus e pontos turísticos. A professora de Língua Portuguesa e Literatura, Jaqueline Flügel, participa desde a primeira edição e indica alguns dos principais pontos de desenvolvimento que o projeto traz aos alunos. Além disso, os próprios estudantes reconhecem os resultados positivos que o projeto traz. Confira no vídeo a seguir a opinião de Lucas Ribeiro, Enya Benites e Pedro Anderson sobre a Olimpíada de literatura.
Depoimento dos egressos Enya Benites, Lucas Ribeiro e Pedro Anderson, sobre a Olimpíada de 2015. (Crédito: Eiko S. Harata)
No ensino superior também é possível encontrar alguns projetos que estimulam os estudantes, como o Cesta Cultural, desenvolvido nos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Autônomo do Brasil (UniBrasil). O projeto, que foi criado em 2007, consiste em organizar, a cada bimestre, uma lista de produtos, como livros, exposições e peças teatrais, para serem consumidos durante os dois meses do bimestre. No final, uma avaliação sobre os produtos é realizada e a nota obtida ajuda a compor a nota bimestral do estudante.
Maura Martins, atual coordenadora dos cursos de Jornalismo e Publicidade e Propaganda do UniBrasil, explica que os alunos têm visões diferentes sobre o projeto mas que, em geral, ele alcança os resultados esperados e ainda colabora com o incentivo às práticas literárias. “Muitas vezes, notamos que os alunos abrem seus interesses a partir das obras da Cesta. Começam, por exemplo, a ler espontaneamente outros livros de um mesmo autor, ou a procurar outros filmes de um diretor de cinema”, comenta. Para a coordenadora, os estudantes percebem a real importância depois de formados.
Um país se faz com homens e livros
É unânime, dentre os professores entrevistados pela EntreVerbos, a importância dos projetos de incentivo à leitura. De modo geral, a relevância está em se ter uma boa e constante rotina de leitura. Para Monique Losina, a popular citação de Monteiro Lobato, que diz ‘um país se faz com homens e livros’, ilustra bem a importância destes projetos, “por conta da ampliação da capacidade crítica que a leitura possibilita”.
A professora Flávia Bespalhok argumenta, também, que um bom profissional precisa de muita leitura para ampliar seu vocabulário. “Sem leitura, de todo tipo, o aluno fica sempre na mesmice. As obras literárias, além de melhorar essa relação com a língua, também desenvolvem a criatividade, ampliam a visão de mundo, e traz para o aluno uma bagagem cultural que é importantíssima”, defende.
Nesta lógica, Jaqueline Flügel lembra que o ato de ler desenvolve a interpretação, em todas as áreas do conhecimento. “O aluno que interpreta bem, tende a se dar bem em todas as outras áreas”, comenta. E é justamente buscando formar um profissional completo que a coordenadora Maura critica a visão mecanicista das formações de jornalistas e publicitários. “Os bons profissionais são aqueles que estão acima do senso comum, que conseguem olhar a realidade de uma forma aprofundada e crítica. E isso só é possível por meio da cultura, do conhecimento de outras realidades, do contato com outras leituras sobre o mundo diferentes da sua”, explica.
Como começar a ler?
Para algumas pessoas, ler um livro inteiro pode ser algo muito difícil. Falta concentração e cada página a menos é comemorada. Contudo, a relação não precisa ser essa. Cada pessoa tem um gosto e um ritmo de leitura diferente e, quando se descobre que nem todo mundo lê da mesma forma, tudo fica mais fácil. A seguir trazemos algumas dicas para facilitar a entrada no mundo literário.