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Por Danielle Arantes e Deydjan Dias

Aumento da longevidade provoca alterações na mão-de-obra

Inclusão de idosos no mercado de trabalho se mostra cada vez mais necessária

A expectativa de vida do brasileiro aumentou. Segundo o IBGE, em 2016, a média de idade chegou a 75,8 anos. (Crédito: Danielle Arantes)

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2016, a expectativa de vida dos brasileiros aumentou e hoje bate os 75,8 anos. O aumento da expectativa de vida, somado à baixa fecundidade dos últimos anos, resulta no aumento das políticas de saúde pública, nos programas de saneamento básico e fatores como as campanhas de vacinação de massa e programas de nutrição infantil.

Com a diminuição da força produtiva e o aumento dos que dependem socialmente dessa produção, mostra-se necessária uma alteração nas políticas que se dirigem para essa parte da população. Como é o caso de Cleuza Rezende Silva, de 66 anos, que trabalha como auxiliar operacional, na Faculdade de Artes do Paraná (FAP), onde atua há 20 anos em serviços de copa. Anteriormente, ela trabalhou na Universidade Estadual de Maringá (UEM), dentro do Hospital Universitário, também na copa. Cleuza ainda não tem direito à aposentadoria (seu tempo de contribuição

encerra-se em novembro de 2019).

Em 2014, 28% dos aposentados continuavam ativos no mercado de trabalho, em sua maioria, para complementar a renda. Para muitos, o benefício não é suficiente para pagar as contas, principalmente quando essas pessoas são as responsáveis pelo sustento de toda a família. Cleuza poderia estar aposentada por idade, mas quer aumentar o valor do benefício por tempo de serviço.

Cleuza Rezande Silva, poderia estar aposentada por idade, mas segue trabalhando para aumentar o valor do benefício. (Crédito: Danielle Arantes)

Apesar de se considerar plenamente ativa, Cleuza conta que sente o preconceito todos os dias. “A discriminação começa pelo ônibus. Já chegaram até a me falar ‘A senhora já não é aposentada? Por que fica tumultuando dentro do ônibus? ’”, relata a copeira. Dentro do ambiente de trabalho também acontece discriminação. Cleusa conta que: “Antigamente tinha reunião aqui e eu não era convidada. Em Maringá, era diferente. O superintende do hospital não começava as reuniões enquanto todos os funcionários não estivessem presentes. Quando eu vim para cá, já notei a diferença. Eu não ia e às vezes nem ficava sabendo”.

De acordo com a pesquisa do site vagas.com, dos 2.367 respondentes, 76% são aposentados, e o número de empresas que buscam profissionais nessa faixa etária diminuiu. Em 2017, apenas 17% da população sênior recebeu alguma proposta de emprego, sendo que, em 2012, essa taxa era de 36%. Cleuza sente que essa discriminação acontece por conta da sua idade “Como se dissessem ‘vai falar o que lá? Não sabe de nada’. E se falar alguma coisa, eles não levam em consideração. Esse preconceito existe e sempre vai existir", conta.

Infográfico sobre aumento da expectativa de vida e desemprego na terceira idade. (Crédito: Danielle Arantes)

Longevidade nas empresas

Frente a esse novo cenário, surgem iniciativas como o projeto Reinvenção do Trabalho LAB60+ - que trabalha em duas frentes: uma, diretamente com o perfil profissional do sênior, aprimorando as competências dessas pessoas, e a outra, com as empresas, cocriando práticas que valorizam a diversidade geracional. Para o educador, empreendedor social e líder do projeto, Rafael Sanches, o programa oportuniza aos participantes construírem, na segunda metade da vida, uma visão prospectiva, trabalhando muito a questão da autoconfiança, do autorespeito e da autoestima, para que essa nova fase seja realizadora e produtiva.

“Lamentavelmente, por conta do prejuízo do preconceito que está instalado na sociedade contemporânea, parte dos nossos contemporâneos de 50 a 60 anos, estão recolhidos em seus aposentos se sentindo improdutivos, infelizes e adoecendo”, afirma Rafael. Outras iniciativas podem ser percebidas no mundo corporativo, com programas de contratação e treinamento de pessoas com mais de 60 anos. Há também um site de vagas exclusivas, o Portal Terceira Idade, que conta com um mural de empregos, onde empregadores cadastram vagas e os idosos podem publicar seus currículos.

Noely Mercer, Coordenadora do Centro de Inovação de Longevidade e Produtividade do SESI, afirmou que a questão da longevidade é muito importante para as empresas. Ouça Noely comentando sobre a transição demográfica que o país está enfrentando e quais atitudes devem ser tomadas. De acordo com a coordenadora, a sociedade não valoriza a pessoa mais velha, pois muitas até empresas só contratam até uma determinada faixa etária. Esse estereótipo precisa ser trabalhado para que se possa oportunizar vagas para pessoas de todas as faixas etárias. Noely Mercer defende que a Reforma trabalhista abrirá novas oportunidades para a reinserção de diferentes perfis profissionais no mercado de trabalho, mesmo que, para muitos, as novas regras sejam nocivas aos direitos trabalhistas.

Previdência privada

Nesse cenário de aumento na expectativa de vida, diminuição da oferta de empregos para a terceira idade e aumento no tempo de contribuição necessário para se aposentar, especialmente com a Reforma da Previdência, uma das alternativa é a de previdência privada ou previdência complementar - uma aposentadoria que não está ligada ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

A pessoa faz contribuições para o plano (período de acumulação). Estas contribuições são aplicadas no mercado financeiro (rentabilizadas) e, dependendo do plano de benefícios escolhido, o saldo acumulado pode ser sacado integralmente ou mensalmente.

A previdência privada aberta é conhecida tecnicamente como Entidades Abertas de Previdência Complementar (EAPC). Os planos podem ser adquiridos por qualquer pessoa física ou jurídica. Ao contrário da pensão, possui fins lucrativos e são comercializadas por bancos e seguradoras. Os fundos de pensões são tecnicamente conhecidos como Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPC). São planos construídos exclusivamente para funcionários de empresas, servidores públicos ou entidade de classes ou associações. São entidades sem fins lucrativos e se organizam sob a forma de fundação ou sociedade civil.

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