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Por Amanda Zanluca

Osterfest: a maior festa de páscoa alemã do Brasil

Feira acontece em Pomerode (SC) e atrai visitantes de vários lugares do Brasil; principal atração é o ovo gigante de 15 metros

Ovo da festa, com 15 metros de altura - obra que recebeu o título de maior ovo decorado do mundo pelo Guinness World Records. (Crédito: Amanda Zanluca)

No lugar do tradicional ovo de chocolate, casquinhas de ovos são pintadas a fim de decorar toda a cidade para receber a páscoa. Assim é em Pomerode, Santa Catarina, cidade em que se mantém viva a tradição alemã, onde o chocolate é apenas um mero detalhe e a arte a grande protagonista dessa tradição. Além de casquinhas de ovos decorados, encontramos pintura em porcelana, tornearia em madeira e outros tipos de artesanato com temas de páscoa, na feira Osterfest que acontece na cidade entre os dias de 21 de Março a 21 de Abril.

Pela tradição alemã, a páscoa representa não só a ressurreição de Cristo, mas também a chegada da primavera. E é em celebração desta data que o povo germânico utiliza a arte para se expressar e comemorar. Pomerode é uma colônia alemã e a feira Osterfest traz diversas destas tradições que foram passadas de geração em geração. A artesã e artista plástica Silvana Pujol, de 63 anos, é descendente pomerana e, nesta edição da feira, foi a artista convidada a desenhar o ovo gigante, em exposição na feira.

Silvana, que é filha de um ourives e de uma artista plástica, conta que a decisão em se tornar uma artista veio no dia em que vendeu seu primeiro trabalho. “Foi na época da escola, para a mãe de uma amiguinha minha. E foi bem interessante porque não rolou dinheiro nessa negociação. Como eu era de uma família humilde, fiz apenas um pedido para dar uma voltinha na bicicleta da filha dela. Dali pra frente eu nunca mais parei de pintar casquinhas”, relata a artista.

Outro fator importante que colaborou para a decisão da artista foi o ambiente na casa da avó, o qual ela frequentava sempre. “A minha avó, ela não sabia pintar nada. Na verdade, a minha mãe era a artista plástica, mas na casa da avó, tudo é melhor. Primeiro, o cheirinho da casa, depois o pão que ela faz, o café, as cucas. Na casa da avó é onde tudo acontece. Ela não precisa saber pintar a casquinha. O aconchego da casa, estar entre família e ter o material já é o suficiente”, contou.

Neste ano, no qual a artista completa 56 anos de carreira, ela desenhou o ovo da festa, com 15 metros de altura - obra que recebeu o título de maior ovo decorado do mundo pelo Guinness World Records. Silvana explica que sempre teve aptidão para as artes plásticas, mas nunca se sentiu preparada para mostrar tal trabalho. “Agora eu me sinto preparada e estou começando a mostrar. E são desenhos bem contemporâneos, que é o que está no fundo da minha alma e que agora está aflorando”, confessa.

A artista explica que sua inspiração não vem de uma única fonte, mas é multifacetada. Para o futuro, Silvana revela seu principal desejo: “Quero reabrir meu ateliê. E assim, eu pretendo morar dentro de um ovo gigante [enquanto aponta para o ovo de 15 metros]. Tenho a ideia de fazer minha casa e meu ateliê em um local muito interessante”.

Arte que vem de "fora"

Com o aumento da disseminação da cultura alemã, a cidade de Pomerode vem recebendo visitantes de várias regiões do Brasil. Em alguns casos, esses visitantes criam tamanho sentimento de identificação com a cultura do local, que acaba por resultar na estadia permanente desses visitantes na cidade.

Esse é o caso do atual maestro da banda municipal da cidade de Pomerode, Rafael Nemézio, de 39 anos. Rafael que é natural de Antonina, estado do Paraná, conta que há 19 anos optou por residir em Pomerode, e que encontrou no Curso de Tornearia em Madeira, a oportunidade de poder voltar às suas raízes como artista. "Eu ficava visitando a escola enquanto esperava os alunos virem para a aula. Conversava com a professora da escola, e foi em 2013 que eu resolvi fazer o curso. Como sou formado em artes, eu sempre gostei de mexer com artesanato. No Paraná eu já tentava fazer algumas coisas em madeira, não com torno. Quando eu comecei a fazer o curso, descobri como que se faz e peguei mais gosto pelo artesanato", relata o artesão.

Além do artesão Rafael que tem como hobby o artesanato de tornearia em madeira, encontramos na Osterfest a artista Lilian Narloch de 62 anos. Uma enfermeira, de Curitiba, mas que há quatro anos pratica como terapia o artesanato em cascas de ovos. A artesã que está pelo terceiro ano expondo seu trabalho na feira, explica que não deseja ter uma relação de trabalho com o seu artesanato, mas sim manter como uma paixão, uma realização pessoal. "Esse trabalho que eu faço é como uma terapia. Eu até ganho dinheiro, vendo bem na feira. Mas é uma compensação pelo custo que eu tenho de vir até aqui, de alugar o espaço na feira. Eu não quero pensar no custo benefício. O artesanato é um investimento em mim mesma."

Num movimento quase oposto, a artista plástica Patricia Hoffmann, de 47 anos, descobriu na pintura em porcelana uma atividade remunerada que lhe proporcionou acompanhar de perto o crescimento da filha. Com o talento artístico que passa de geração em geração na família da artista, Patricia explicou sobre a arte do fogo - trabalho que está em exposição na feira. "O meu trabalho é pintura em porcelana, que são pinturas que se chamam arte do fogo. Todas essas peças são pintadas e levadas para um forno a 800 graus, para a tinta ser fundida na porcelana", conta. A artista, que está pelo sétimo ano na Osterfest, revela de onde busca suas inspirações: "Eu viajo muito. Vou pelo menos uma, duas vezes para a Europa para tentar trazer novidades e me inspirar. Visito muito museus e antiquários para trazer novas ideias".

Ademais dos artistas e artesãos presentes na feira, a Osterfest, que está em sua última semana, também apresenta outras atrações como a Osterbaum, reconhecida como a maior árvore do mundo deita com casquinhas naturais, totalizando cerca de 100 mil unidades.

Artesãos e artesãs e seus trabalhos que estão em exposição na Osterfest. (Crédito: Amanda Zanluca)

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