Enquanto o mundo está conseguindo diminuir as taxas de suicídio (-36% entre 2000 e 2019), o Brasil enfrenta dificuldades para evitar o crescimento ano após ano.
Suicídio segue crescendo no Brasil, sendo uma preocupação para a sociedade. Crédito: Domínio Público.
Desde 2011, os números de suicídio no Brasil não param de crescer. Analisando os dados do DataSUS referente a mortes por lesão autoprovocada entre 2011 e 2020, os números saltaram de 8.294 no primeiro ano contabilizado para 12.895 no último. Entre os cinco estados com maiores casos nesse período estão São Paulo (1º), Minas Gerais (2º), Rio Grande do Sul (3º), Santa Catarina (4º) e Paraná (5º). Já considerando o número de suicídios por milhão de habitantes, os cinco primeiros estados são Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Piauí e Roraima.
No início de 2020, quando todos tiveram que lidar com as mudanças de rotina como consequência da pandemia, temeu-se que o número de casos de depressão e suicídio explodissem no Brasil. Felizmente, isso não aconteceu. Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado em 2021, o aumento de foi de “apenas” 0,4%, sendo 12.745 de casos de morte por suicídio em 2019 para 12.895 em 2020. Entre os estados com as maiores variações estão Amazonas e Acre, com 25,6% e 24,9%, respectivamente. Já entre as maiores quedas, destacam-se Amapá (-37,5%) e Espírito Santo (-19,8%).
Segundo o mestre em Psicologia pela UFPR (Universidade Federal do Paraná) e psicólogo no Hospital Infantil Pequeno Príncipe, Bruno Jardini Mader, as restrições e o isolamento podem ter sido estressores para a saúde mental de algumas pessoas, mas não seriam o suficiente para motivar o suicídio, por isso o aumento foi pequeno.
“Sobre a influência da pandemia, precisamos considerar que o isolamento social, as restrições comerciais e todos seus efeitos serviram sim como estressores e houve impactos no desenvolvimento de transtornos mentais e nas questões relacionadas a saúde mental de uma forma geral. […] Podemos considerar que a pandemia teve impactos na saúde mental, mas talvez, não tenha gerado desesperança ao ponto de aumentar as taxas de suicídio.”
Já a psicóloga Fernanda Vicilli, especialista em Psicologia Clínica pelo Conselho Federal de Psicologia, acredita que o isolamento social pode ter tido um aspecto protetivo, além de destacar que os jovens já estão mais acostumados a ter relacionamentos via internet.
“O isolamento social também pode funcionar como fator protetivo quando a família passa mais tempo junta e tem maior oportunidade de identificar fatores de risco e mesmo de não deixar o indivíduo sozinho em momentos de maior vulnerabilidade. […] Em minha experiência clínica durante a pandemia, mais da metade dos jovens não relatou impacto significativo do isolamento social pois está habituado a conversar com os amigos prioritariamente online, fazer compras online e dispender bastante tempo na internet.”
Embora o Brasil esteja na contramão do mundo nesse quesito, uma vez que a média mundial de suicídio teve uma queda de 36% entre 2000 e 2019, segundo a OMS, enquanto o país vê suas taxas subirem, o aumento abaixo do esperado durante um dos períodos mais difíceis da história indica que a questão de mortes por suicídio está um tanto controlada.
Frio enfretado no Sul tem relação com mortes por suicídio?
Com os estados sulistas entre os líderes, tanto em números absolutos quanto no cálculo por milhão de habitante, uma pergunta a ser levantada é se o frio está relacionado a esses altos índices. Segundo o psicólogo Bruno o clima não é um fato tão relevante, enfatizando a multifatoriedade desse tipo de morte.
“Não eu acho que se deva colocar o frio como a principal causa. […] O tempo até pode influenciar no humor em dias frios, de ficarmos um pouco mais resguardados em dias fios e em dias quentes mais aberto, mas isso seria frívolo para a dimensão do suicídio.”
Já Fernanda acredita que o frio até possa ter algum peso, mas destaca o fato de países com colonizações muito presentes nessa região também possuem altos números de suicídio.
Pandemia certamente não ajudou pessoas com tendência suicida. Crédito: Domínio Público.
“Como no inverno os dias são mais curtos, existe um impacto na produção de melatonina, que ajuda o corpo a regular o ritmo biológico e ajuda a fazer com que o sono seja mais profundo e reparador e isso está diretamente relacionado ao bem-estar físico e psicológico.”
Ambos os entrevistados destacam que suicídios costumam ser provocados por diversos fatores, entre eles alguns conhecidos como questões econômicas e relacionamento interpessoal, enquanto outros são menos populares como a questão cultural, citada por ambos ao destacar que a região Sul do Brasil foi colonizada por países com altas taxas de suicídio como Alemanha, Japão e Polônia.
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