Dados da nona edição do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol aponta 233 casos nos campeonatos de 2022 nos estádios brasileiros
Artigo de Osvaldo Bugelli Neto
A principal paixão esportiva nacional vem contabilizando inúmeros casos de racismo nos últimos anos, dentro e fora dos campos. Segundo última edição do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol, promovido pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol com base na temporada de 2022, foram registrados 233 casos de racismo no futebol brasileiro. O número acusa um aumento de 190% em comparação com 2020, quando a pesquisa indicou 81 casos. Os dados alarmantes ressaltam a necessidade urgente de medidas ainda mais eficazes para combater o racismo neste contexto esportivo. Os dados do observatório oferecem um panorama quantitativo sobre a gravidade e a frequência dessas ocorrências percebidas rotineiramente nas temporadas do futebol brasileiro.
As medidas punitivas atualmente aplicadas, como multas e perdas de mando de campo para equipes, são reconhecidas como importantes, porém insuficientes na abordagem do racismo no esporte. O combate eficaz ao racismo requer a colaboração de autoridades governamentais, clubes esportivos, federações, atletas, jornalistas e torcedores. Cada um desses grupos desempenha um papel importante na busca por soluções, implementem legislações rigorosas contra atos racistas, enquanto clubes e federações adotam políticas de tolerância zero e promovem campanhas educativas.
Os atletas, como figuras públicas e exemplos para muitos, são cobrados para se posicionarem publicamente contra o racismo, usando sua visibilidade para sensibilizar e influenciar positivamente seus seguidores. Vinícius Jr., jogador do Real Madrid, foi alvo de insultos racistas durante várias partidas na Espanha em 2023, destacando a importância de seu papel na conscientização global sobre o problema. Por outro lado, os jornalistas têm a missão de noticiar casos de racismo com imparcialidade e rigor, além de promover discussões que ajudem a conscientizar a sociedade sobre a gravidade do problema.
Os torcedores, peça fundamental nesse quebra-cabeça, precisam adotar atitudes respeitosas e inclusivas nos estádios e fora deles, repudiando qualquer manifestação de preconceito. Somente com a união e o comprometimento de todos esses setores será possível criar um ambiente mais justo e igualitário, erradicando de vez o racismo do esporte e da sociedade.
Educação começa em casa - A educação é uma parte imprescindível deste esforço. “Mais do que penalizar, é importante educar as pessoas para o respeito e a diversidade”, afirma Larissa. Esta educação deve ser constante e envolver todos os atores do futebol. Gabriel, um jovem jogador de uma favela no Rio de Janeiro, relatou que os insultos racistas que enfrentou quase o fizeram desistir do esporte, ilustrando a urgência de programas educacionais desde as categorias de base.
Emanuel Conte Chiappetto, pai de um atleta das categorias de base de futebol do Avaí, defende que é fundamental discutir o racismo em casa, independentemente da base ou onde se estuda. “O comportamento e a ciência de não ter preconceito é independente de qual círculo social ele convive. Isso se aprende em casa e não na rua, escola, base, faculdade, etc.”, afirmou. As conversas sobre fatos atuais, como, por exemplo, o caso de Vinícius Jr., são indispensáveis para moldar uma geração consciente e respeitosa.
Quando um caso de racismo é confirmado, cada órgão tem um papel e uma responsabilidade específica. As autoridades aplicam a lei, os clubes educam seus jogadores e torcedores, e as federações impõem sanções aos clubes. Os atletas, por sua vez, podem usar sua influência para falar contra o racismo e promover a diversidade e o respeito.
No entanto, a luta contra o racismo não se limita ao futebol. “O racismo não está somente nos estádios, mas na internet, nos programas esportivos e na própria sociedade”, reforça a professora Larissa. Portanto, é necessário um esforço conjunto para criar uma sociedade onde o racismo não é tolerado. Só assim as mudanças serão ainda mais significativas e eficazes.
CBF cria comissão contra violência o futebol - A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) criou uma comissão para debater ações e medidas concretas no combate à violência no futebol brasileiro. O grupo de trabalho tem 46 membros, representando mais de 30 instituições. No início deste ano, a CBF anunciou medidas para o combate ao racismo no país. O Conselho Técnico definiu que uma multa financeira será a primeira punição. Em caso de reincidência, o clube perderá mando de campo ou jogará com portões fechados. Em terceiro caso, a punição será a perda de pontos.
Implementar programas educacionais que abordem o tema do racismo no futebol desde as categorias de base, capacitar jovens jogadores, treinadores e membros da comissão técnica, são tópicos presentes em discussões por diferentes ativistas, como Adriana Barbosa (Fundadora da Feira Preta) e Marcelo Carvalho (Fundador do Observatório da Discriminação Racional no Futebol). As instituições esportivas devem adotar uma política de “tolerância zero” em relação ao racismo. Isso significa que qualquer manifestação discriminatória deve ser prontamente identificada, investigada e punida de maneira adequada. É irrefutável que as instituições esportivas, como federações, clubes e ligas, ofereçam suporte e proteção aos jogadores que são alvo de racismo.
O caminho para um futebol livre de racismo é longo, mas cada passo, cada medida tomada, cada voz levantada, nos aproxima de um esporte mais justo e de uma sociedade mais igualitária. O compromisso deve ser diário, e a transformação, contínua. Assim, o esporte pode finalmente refletir o verdadeiro espírito de união que ele representa para milhões de pessoas ao redor do mundo. Como torcedor, você pode fazer a diferença. Denuncie atos de racismo, apoie campanhas antirracistas e participe de discussões que promovam a igualdade e o respeito no esporte.
Tema atemporal e infelizmente crescente, como demonstra os dados da pesquisa, uma pena.
O assunto precisa ser debatido nas escolas e em casa, a educação sempre é o caminho mais viável e barato para a sociedade.
Já para os infratores, necessário se faz aplicar o rigor da lei.
Excelente texto! Assunto necessário de ser debatido