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Daiane Siqueira

Gol de placa: o poder do futebol feminino


Torneio entre times femininos (Foto: Daiane Siqueira)

Quem vê a seleção feminina de futebol dando espetáculos a cada partida nem imagina que até há pouco tempo a modalidade era ilegal no nosso país. Até 1979, o esporte era restrito para o gênero feminino com a justificativa de não ser algo natural às mulheres, e que as impediria até mesmo de engravidarem. Somente em 1983 o futebol foi regulamentado, e de lá pra cá a modalidade tem sido resistente.


Exposição temporária CONTRA-ATAQUE! As Mulheres do Futebol, do Museu do Futebol (Foto: Mônica Saraiva)

Piauí FC (Foto: Cristovão Santos da Silva)

Um dos principais entraves da modalidade é o preconceito enraizado na sociedade. Cristóvão Santos da Silva é técnico há seis anos do time de futebol feminino Piauí FC, localizado na zona rural da cidade de Ouricuri-PE, e como treinador afirma que o prejulgamento afeta diretamente na falta de patrocínio. “O preconceito ainda é o maior obstáculo que enfrentamos.

A respeito de patrocínios que nós não temos, porque quando se fala que é para um time de mulheres só recebemos não como resposta”.



Infelizmente a falta de patrocínios não afeta somente times pequenos. A Seleção Brasileira de Futebol Feminino, até 2015, tinha que usar os uniformes da seleção masculina, pois não havia um modelo específico para as mulheres. Somente em 2019 a Nike criou um uniforme fixo e comercializável com as inscrições: “Mulheres Guerreiras do Brasil” nas costas da gola da camisa.


Além da falta de patrocínio, existe a falta de investimento por parte de órgãos públicos e privados. O técnico Cristóvão reclama que a maior parte dos torneios que o time participa são na zona rural, com investimento de pequenos empresários. “Se não me engano faz uns quatro a cinco anos que não tem campeonato nenhum em nossa cidade, nem da primeira divisão, nem da segunda divisão ou dos veteranos”. O que prejudica os atletas da região, os obrigando a transferir o título para outras cidades para não deixar de jogar.


Bem-estar físico e mental


Apesar dos preconceitos, a modalidade esportiva tem ganhado cada vez mais admiradores e reconhecimento. E isso vem acontecendo graças ao talento e esforço de muitas mulheres que não se abalam com o estranhamento e os obstáculos. Cristóvão fala com empolgação sobre como é gratificante ver as atletas se dedicando, mesmo com as dificuldades.


“O que me motiva é que pra elas nunca tem tempo ruim, tanto pra treinar como pra ir jogar os torneios, tanto no município como fora. Por a maioria das atletas já serem mães de família nunca colocam desculpas pra jogar, pois sei que pra elas é uma diversão à parte. Faça chuva ou sol, aonde for o jogo elas sempre estão lá com um belo sorriso no rosto fazendo o que elas amam”.


A recepcionista Rayara Alves Feitosa, de 26 anos, treina desde os dez anos de idade, por uma iniciativa de um vizinho que montou um time de futebol infantil, despertando o interesse da moça pelo esporte. Se dividindo entre o trabalho de recepcionista e o amor pelo esporte, a atleta treina nas horas livres, e explica o que a mantém motivada a continuar treinando. “O que me motiva até hoje é a sensação de bem-estar que o esporte me trás. Aquela sensação de um final de jogo, ganhando ou perdendo, sabendo que dei o meu máximo, isso é gratificante demais”.


A jovem ainda ressalta a importância do esporte para o bem-estar emocional. “Se eu não praticasse o esporte hoje, seria uma pessoa depressiva.”. A estudante Allane Sibele, 18 anos, que também pratica o esporte desde a infância, também relaciona o esporte a uma espécie de terapia.


O educador físico Elyelson Batista explica que além de benefícios para a saúde mental, o esporte também ajuda no bem-estar corporal, pois “auxilia no aumento da capacidade cardiorrespiratória e potência aeróbica. O esporte também fortalece a musculatura, especificamente da coluna e das pernas”.


Para as mulheres, mais especificamente, o esporte também ajuda no alívio do estresse, de sintomas da TPM e ajuda na autoestima, complementa a profissional de Educação Física Ana Luiza Melo de Souza.


Copa do Mundo Feminina 2023


A Copa do Mundo Feminina está se aproximando. Será realizada na Austrália e na Nova Zelândia, e promete ser um marco para o futebol feminino mundial. O Brasil, que tem uma forte tradição no futebol masculino, não fica para trás quando se trata da categoria feminina.


No ano de 2023, a Seleção Brasileira de Futebol Feminino tem a chance de mostrar que ainda pode competir em alto nível. O elenco conta com Marta, premiada seis vezes como melhor jogadora do mundo pela Fifa, além de Cristiane e Formiga, que possuem experiência em Copas do Mundo.


No entanto, nos últimos anos, a Seleção Brasileira de Futebol Feminino vem enfrentando dificuldades para se manter entre as principais equipes do mundo. A falta de investimento no esporte e a desvalorização das mulheres no futebol têm sido apontados como fatores que contribuem para a estagnação da equipe.


Com a chegada do campeonato mundial, a seleção feminina tem a chance de mostrar que pode competir em alto nível, além de que pode ser uma oportunidade para que o futebol jogado por mulheres ganhe mais visibilidade no Brasil e desperte o interesse de mais empresas e patrocinadores.


Pela primeira vez, o torneio será transmitido em TV aberta no Brasil, e também será transmitido pelo canal Cazé TV, do streamer Casimiro, pelo Youtube, assim como foi a Copa do Mundo de Futebol Masculino em 2022. O que será ótimo para a categoria, pois terá mais espaço para mostrar o talento das jogadoras.


Além de mostrar que futebol também pode ser jogado e muito bem, por mulheres. “Apesar das dificuldades, a gente pode mostrar o contrário, que mulher pode sim estar onde ela quiser, pode jogar bola, mulher poder ser o que ela quiser. E que a igualdade chegue para que o futebol feminino fique igual ao futebol masculino”, conclui Rayara.

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