A maior enchente que o estado enfrentou desde 1941 chega a mais de 5 metros de altura no nível do Lago Guaíba, devastando municípios inteiros por conta das chuvas excessivas
Por Isabella Cami Villalba
Município de Canoas, na região metropolitana, visto de cima - Fonte: Renan Mattos
As consequências das mudanças climáticas estão se agravando, e as evidências dos impactos estão cada vez mais claras. Neste mês de maio, os sinais se manifestaram no estado do Rio Grande do Sul, que enfrentou a maior enchente desde 1941, ultrapassando recordes de desastres ambientais. O nível do Lago Guaíba, rio que conecta vários outros do estado e que banha a capital e municípios de região metropolitana de Porto Alegre, chegou a mais de 5 metros de altura. De acordo com a defesa civil, desde o início dos resgates até a primeira quinzena de maio, foram registrados 147 óbitos, 127 desaparecimentos, 806 feridos e mais de 2 milhões de pessoas afetadas.
Praticamente o estado todo apresentou casos de alagamento. O estado conta com 497 municípios ao total, dos quais, segundo a defesa civil, 447 foram afetados com o avanço da água. O medo e o pânico estão presentes na vida dessas pessoas, com a perda de familiares, de suas casas, a escassez de mantimentos, a falta de luz e água, além da evacuação de cidades. O cenário trágico que o povo gaúcho vem vivendo está se agravando com a chegada de novas chuvas e temporais, aumentando ainda mais o risco de novos deslizamentos de terra e inundações.
Os resgates não foram realizados apenas por profissionais, mas também por voluntários e pela população atingida pelas enchentes. No cenário desolador das ruas alagadas em dezenas de cidades, pessoas pesas em suas casas isoladas pela enchente, ou pedindo socorro em telhados no aguardo das patrulhas. Voluntários e bombeiros de vários estados participaram das ações de resgate.
Um morador de Porto Alegre de 60 anos que optou por não expor seu nome, relatou que a água tomou o primeiro andar de seu prédio, impedindo que chegasse em sua residência no segundo andar. “A água foi chegando na sexta-feira, aos poucos, mas foi no sábado que foi a grande cheia em frente ao portão de meu prédio”. A vítima agora está em um abrigo, pois a água subiu ainda mais bloqueando completamente a entrada. “Neste momento o nível da água está maior que 1 metro e 70 centímetros, vi algumas pessoas sendo retiradas de casa, mas foi com a ajuda de botes, era impossível sair sem”.
Apesar de grandes estragos nas cidades, como nos municípios de Lajeado e Eldorado, que ficaram totalmente submersas, a reconstrução da vida de milhões de famílias desabrigadas torna-se o principal desafio. A solidariedade com apoio e doações que chegam de todas as regiões do país tem sido um alento e um suporte para sobreviventes no longo período fora de casa.
A solidariedade recebeu destaque em meio ao caos, uma corrente do bem se formou em prol da ajuda as vítimas das enchentes, diversos abrigos foram formados e recebem muitos voluntários ao redor do estado. Campanhas de doações se alastraram pelo Brasil inteiro, trazendo esperança para a vida dessas pessoas. Alimentos, roupas, água, itens de higiene e ração para os animais, foram e estão sendo arrecadados para essas famílias. Até o momento, mais de 76 mil pessoas e mais de 10 mil animais, foram resgatados, de acordo com a defesa civil. Mais de 538 mil pessoas foram desalojadas, porém quase 80 mil já foram direcionadas aos abrigos.
Voluntários têm se destacado na ajuda nos abrigos
De acordo com Eduarda Dresch (20), voluntária que atua em dois abrigos, um para pessoas e outro para animais, a inscrição para ajudar nos abrigos funciona por lista, com preenchimento de acordo com a disponibilidade de pessoas para a execução de várias funções, como triagem de doações, acolhimento de vítimas, cuidado e suporte aos animais ou nas áreas de cadastro. “O cenário dos dois lugares que eu trabalhei eram bem semelhantes. Cheguei bem no início, com um pouco de caos e bagunça. Mas, acredito que no bom sentido, pois eram muitas pessoas tentando se ajudar ao mesmo tempo, da forma que conseguiam”.
Abrigo de animais em Porto Alegre. Fonte: Eduarda Dresch
A voluntária afirma que apesar da tristeza que a tragédia gerou, o movimento de solidariedade que formou foi muito emocionante. “Eu via a vontade de ajudar nas pessoas. Tu conseguias ver as pessoas agradecidas pelo trabalho feito ali”, afirma Eduarda, que buscou o voluntariado pela vontade de fazer mais do que doações, pois isso estava ao seu alcance.
Saiba com doar e como voluntariar-se
Caso tenha interesse em participar das ações solidárias, consulte o blog dos correios e verifique a disponibilidade do envio de doações na sua cidade, muitas agências ao redor do Brasil, estão disponíveis para a arrecadação de donativos. Se preferir, pode ajudar financeiramente, acessando o site Para Quem Doar que reúne diversas instituições sociais voltadas a ajudar as vítimas. O uso das suas redes sociais para o compartilhamento de informações também é de grande ajuda, dando visibilidade aos acontecimentos.
Caso tenha interesse em participar de ações voluntárias, o site SOS-RS, reúne diversas informações sobre abrigos disponíveis e a necessidade de ajudantes. E no site Adote RS, se encontram informações de adoções de animais perdidos ou que necessitam de lar temporário. Por enquanto, disponível para o Rio Grande do Sul e São Paulo, em breve ao Brasil todo.
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